Recebi agora o número 41 da revista Jornalismo e Jornalistas, com quatro temas de capa: blogosfera e media, imprensa e ambiente, entrevista ao anterior provedor do leitor do jornal Público e história do jornal 57. No interior, destaco o artigo de António Granado.
Trata-se de um número a quem vou dedicar especial atenção, pelo que li e pelo que concordo e discordo. No primeiro tema, os blogues são apreciados do ponto de vista interno dos jornalistas (ou colunistas de jornais), pelo que não há uma tese que conduza ao ponto de interrogação. Lembro que o assunto foi levantado no primeiro encontro de blogues promovido pela Universidade do Minho em 2003, pensando-se que a blogosfera poderia substituir o jornalismo. Além disso, o título situa os media mas o que vemos são jornalistas a falarem da blogosfera, o que me parece igualmente não bem conseguido no texto (embora haja uma entrevista a uma jornalista da rádio e outra a um jornalista da televisão).
Do trabalho de Rui Brito Fonseca, há uma análise de 388 artigos sobre ambiente em jornais nacionais no período de 1976 a 2005, com três tópicos: tema, discurso do risco e do benefício, e newsplay (que o autor não traduz e causa algum embaraço - será desempenho da notícia? papel da notícia? impacto da notícia? agendamento?, relacionado com destaque, dentro de uma lógica de sensacionalismo). As figuras, com recurso a gráficos, são ininteligíveis (o ideal é pôr quadros clássicos com números dentro). Da bibliografia, sinto a falta dos textos de Luísa Schmidt e de Gonçalo Pereira, para mais vindo de um estudante de doutoramento do ISCTE. Contudo, fica um registo de interesse, quando o autor assinala 1986 como ano em que os jornais começaram a prestar mais atenção aos temas do ambiente, devido à entrada do país na União Europeia e porque os governos começavam a ter mais estabilidade política.
Salto para a crónica de António Granado. Fixo-me em dois pontos, o primeiro sobre o ensino do jornalismo estar desfasado da realidade social, tecnológica e económica, o que considero ser um bom tema para discussão. O segundo é sobre o conceito e prática do gatekeeper, que o jornalista e docente universitário entende já não ter razão de existir. Aqui não me parece haver razão em António Granado. Ao jogar com os termos ingleses gatekeeper (aquele que selecciona assuntos para notícias) e gravekeepers (guardadores de sepulturas), não explica que hoje existem novos gatekeepers. O manancial de informação é tão grande que cada cidadão precisa de quem escolha e aponte perspectivas. Nós não conseguimos ver 500 canais de televisão ou um milhar de sítios da internet por dia. Ao princípio, ficamos fascinados com a oferta exuberante mas, depois, rendemo-nos a dois a três canais ou dois ou três sítios, por manifesta falta de tempo e de critérios de auto-selecção. Penso sempre no que escreveu Anthony Smith sobre a abundância da informação e no que Michael Schudson disse quando reflectiu que o mundo precisa dos jornalistas como aqueles que separam a notícia dos acontecimentos e fazem uma interpretação desses factos.
A revista Jornalismo e Jornalistas é uma publicação regular do Clube dos Jornalistas. Tem uma informação na ficha técnica (p. 3) que, infelizmente, já não corresponde à verdade: o programa de televisão CJ acabou em 16 de Dezembro de 2009, como se pode ler aqui.
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