Daniel Innerarity, no seu livro O Novo Espaço Público, tem um conjunto de capítulos que me agradam: história, cidades, Europa e cosmopolitismo, comunicação social (por facilidade de escrita, chamo media).
O capítulo que retenho hoje é o dos media, que ele trabalha nomeadamente a partir de Habermas, Heidegger, Luhmann e Wittgenstein, filósofos de língua alemã, mas sem qualquer incursão na sociologia dos media e de língua inglesa, o que ilustra posições. Para Innerarity, os media dão-nos a ilusão de vivermos num mundo único, num espaço comum cujo referente é a realidade. Contudo, este comum tem pouco a ver com a realidade e resulta de um mecanismo de construção social (p. 88). Para os media, a verdade interessa pouco e conta muito o novo, o actual, o conflitual, as quantidades, o local, o escândalo. O que leva a uma primeira conclusão: vivemos num mundo em segunda mão, dado que os media constituem a mediação universal, fornecem a matéria da nossa realidade. Os media não observam acontecimentos mas observam observações (p. 96).
A segunda grande ideia do capítulo de Innerarity sobre os media é a ideia que estes se mostram como horizonte mitológico. As histórias (notícias) funcionam como mitos: há sempre um confronto sobre o qual tomamos partido, uma catástrofe que nos comove, um escândalo a suscitar a nossa indignação (p. 91). A essência da mitologia é a repetição continuada do mesmo esquema. A mitologia dos media traduz-se em redundância, em repetição de estruturas. Mais do que informação, os media proporcionam segurança, transmitem mais entretenimento que conhecimento. Os media moralizam quando reduzem os problemas aos que decidem e aos atingidos pelas decisões - responsáveis e vítimas.
Uma outra conclusão do capítulo de Innerarity diz respeito a opinião pública. O autor basco considera esta como a cultura latente que predetermina os lugares-comuns e estabelece o repertório dos assuntos públicos (p. 101), pelo que existe uma luta pela actualidade, pela visibilidade e pela atenção pública conferida à vida social e política. Para ele, os media dirigem a atenção não para os que as pessoas pensam mas para o que as pessoas pensam que as pessoas pensam. E vai mais fundo na sua análise aos media, em especial a televisão: o valor de um directo corresponde à ilusão da observação em primeira mão (p. 97). A que se junta a ânsia de realidade satisfeita com a oferta de programas de televisão que vendem realidade e o desejo de autenticidade, com a presença de actores não profissionais.
Leitura: Daniel Innerarity (2010). O Novo Espaço Público. Lisboa: Teorema
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