terça-feira, 1 de junho de 2010

BERTOLDO, DE ANGELO RIZZOLI (1936-1943)

No magnífico romance de Umberto Eco A misteriosa chama da rainha Loana – de que já fiz eco nomeadamente aqui e no meu livro Indústrias Culturais - Imagens, Valores e Consumos (2007), o autor referencia a revista Bertoldo, semanal (inicialmente quinzenal), de humor e sátira, publicado em Milão (14 de Julho de 1936 a 10 de Setembro de 1943), pelo grupo editorial de Angelo Rizzoli [imagem da revista retirada do sítio da Fondazione Franco Fossati].

Curiosamente, a revista Bertoldo nasceu devido à existência do satírico Marc'Aurelio, editado em Roma desde 1931. Para o Bertoldo, trabalharam o humorista e editor Cesare Zavattini (um dos primeiros teóricos do movimento do cinema neo-realista italiano, como Ladrões de Bicicletas, esteve pouco tempo no lugar, a que se sucederam Giovanni Mosca e Vittorio Metz), John Guareschi (editor, designer, escritor) Marcello Marchesi (com ideias e artigos), Guido Martina, Saul Steinberg, Angelo Frattini, Hyacinth Mondaini e Carletto Manzoni. A revista afirmou-se imediatamente pelo seu estilo inovador, dado o inconformismo e a leveza opostos ao estilo pantanoso dos jornais da época, surgindo como nova marca da banda desenhada italiana. Claro que o jornal teve uma influência significativa sobre a Itália da década de 1930 e não escapou à atenção de Benito Mussolini e do seu regime.

A vida do proprietário Angelo Rizzoli (1889-1970) é interessante. Ele nasceu em Milão e, muito pobre, foi criado no orfanato Martinitt (1895-1905), onde desenvolveu conhecimentos de tipógrafo. Começou a trabalhar no mercado de publicações, tornando-se empresário do sector na década de 1920 (A.Rizzoli & Co, actual RCS Mediagroup). Em 1924, a empresa de Rizzoli empregava cerca de cem trabalhadores e era uma das primeiras a imprimir revistas no país. Em 1927, tornou-se editor, ao comprar a revista bi-semanal Novella (da Mondadori), reorientando-a para um público feminino (referenciada igualmente no livro de Eco), tendo atingido uma circulação de 130 mil exemplares. Mas também comprou Il Secolo Illustrato, La Donna e Commedia. Tal começo auspicioso levou Rizzoli a comprar e criar publicações outras publicações que incluiriam Annabella, Candido, Omnibus (revista ilustrada fechada em 1939 pelo regime fascista e logo substituída pela Oggi, igualmente encerrada) L’Europeo e o nosso Bertoldo. Em 1929, começava a imprimir a Enciclopedia Treccani. Durante a Segunda Guerra Mundial, a fábrica, os edifícios e os equipamentos da tipografia foram destruídos num ataque bombista. Rizzoli procedeu à reconstrução e lançou algumas das publicações acima identificadas. Em 1951, foi fundado o Istituto Grafico Rizzoli para o ensino das artes gráficas.

Esta actividade mostra a força de Rizzoli, atravessada por sucessos comerciais (e igualmente políticos, pois ele sobreviveu às grandes dificuldades impostas pelo regime ditatorial de Mussolini, fez bons negócios durante os governos da democracia cristã no pós-Segunda Guerra Mundial e com o actual primeiro-misntro Berlusconi). Em 1960, mudou a sede do grupo para um complexo na Via Civitavecchia em Milão.

No cinema, Rizzoli foi produtor de filmes de Federico Fellini La Dolce Vita (1960), (1963) e Julieta dos Espíritos (1965).

[Fontes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Angelo_Rizzoli; http://wapedia.mobi/it/Angelo_Rizzoli; http://wapedia.mobi/it/Bertoldo_(rivista); http://theoscarsite.com/whoswho4/rizzoli_a.htm]

Retiro do livro de Umberto Eco (pp. 202-203, tradução portuguesa) a conversa tida entre Bertoldo e o Grão-Duque (via SCHEGGE DI STORIA):

«Passò Bertoldo fra tutti quei signori del seguito e subito andò a sedere presso il Granduca Trombone il quale, benigno di natura e amante delle facezie, in cotal guisa piacevolmente cominciò a interrogarlo:
GRANDUCA - Buondì, Bertoldo, com'è la crociata?
BERTOLDO - Nobile. [...]
GRANDUCA - E l'impulso?
BERTOLDO - Generoso.
GRANDUCA - E lo slancio di generosità umana?
BERTOLDO - Commovente.
GRANDUCA - E l'esempio?
BERTOLDO - Luminoso.
GRANDUCA - E l'iniziativa?
BERTOLDO - Coraggiosa.
GRANDUCA - E l'offerta?
BERTOLDO - Spontanea.
GRANDUCA - E il gesto?
BERTOLDO - Squisito.
«Rise il Granduca e, chiamati intorno a sé tutti i Signori della Corte, ordinò il Tumulto de' Ciompi (1378) avvenuto il quale tornarono tutti i cortigiani ai loro posti e cosi il Granduca e il villano ripresero a conversare.
[...] GRANDUCA - E la plaga?
BERTOLDO - Fertile e assolata.
GRANDUCA - E la popolazione?
BERTOLDO - Ospitalissima.
GRANDUCA - E il panorama?
BERTOLDO - Superbo.
GRANDUCA - E i dintorni?
BERTOLDO - Incantevoli.
GRANDUCA - E la villa?
BERTOLDO - Signorile».

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