sábado, 12 de junho de 2010

O LIXO DOS COMENTÁRIOS

O artigo que José Pacheco Pereira escreve no Público de hoje - sobre os comentários de anónimos nas notícias online - merece-me muita atenção. Ele critica "os insultos, as obscenidades, os erros de ortografia, os pseudónimos, os anónimos, as letras maiúsculas e minúsculas" que acompanham os comentários. Da minha leitura, aduzo cinco razões de Pacheco Pereira: 1) a responsabilidade destes comentários também é das empresas editoras, porque os permitem, 2) os jornais ganham com esta prática, porque aumentam o número de visitas e de pageviewers e, assim, a publicidade, 3) os comentários são uma forma do "povo" expressar-se, um mecanismo de democracia directa e participativa, 4) não se podem eliminar tais comentários, porque isso poderia ser associado a censura, 5) é um sintoma de degradação do jornalismo contemporâneo.

Acrescentaria mais três razões: 1) as empresas jornalísticas não sabem o que hão-de fazer a este mecanismo que é a caixa de comentários, como a podem controlar num balanço de vantagens e prejuízos, 2) a culpa não é do jornalismo contemporâneo (um dos temas-alvo de Pacheco Pereira na sua análise à sociedade de hoje), mas das empresas jornalísticas e de toda a internet, devido ao mecanismo indicado na razão anterior (aqui no blogue, também tive momentos de comentários impróprios), 3) os insultos e outros são próprios de de uma opinião pública frágil e ignorante da importância da discussão pública.

Por esta última razão, afasto-me do pensamento de Pacheco Pereira; apesar da riqueza da sua argumentação, entendo que o alvo dele não está correcto. Não quero ser integrado por oposição a ele, que é apocalíptico (usando Umberto Eco), mas vejo os jornais e os media como empresas com interesses e que se englobam na sociedade onde há interesses mais vastos. Primeiro, as notícias reflectem esse jogo vasto e frequentemente nebuloso de interesses. Segundo, a internet (e as caixas de comentários) não trouxe(ram) o reequilíbrio e a harmonia social ambicionados pelos deterministas tecnológicos.

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