domingo, 5 de dezembro de 2010

REVISTA DE IMPRENSA

Na semana que concluiu, três eventos mediáticos merecem o meu destaque.

Tópico 1 - agendamento. Vindo da semana anterior, foi o do ataque aos narcotraficantes no complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Ao longo dos dias, as notícias relataram os progressos das forças policiais e a limpeza da favela com o apreendimento de droga. Depois, indicaram que muitos dos traficantes haviam fugido por um túnel; agora, sabemos que um dos seus dirigentes escapou na mala de um automóvel. Uma dúvida se instalou: como puderam construir um túnel durante o cerco de militares e polícia? A informação mais recente revela a existência de um mediador, que possibilitou o afastamento de traficantes da zona, a usar nos Jogos Olímpicos que o Brasil vai organizar. O dispositivo dos media, ao querer mostrar o acontecimento em tempo real, não permite fazer o adequado enquadramento: contextualização, percepção que há mais espaço que o da luta entre bons e maus, nomeadamente interesses (políticos, imobiliários). A produção de notícias precisa de ter em conta os múltiplos interesses em jogo e quem controla a agenda de notícias.

Tópico 2 - internet. A revelação de telegramas das embaixadas americanas (já designado por cablegate), através do sítio Wikileaks para além do enorme embaraço a nível mundial - muitas das revelações já sabíamos porque os media nos informaram ao longo dos meses, mas não nesta quantidade e pondo os nomes dos protagonistas -, proporcionaram uma forte discussão nos media. De um lado, a grande oportunidade para os historiadores, ao acederem ao que estaria vedado por mais ou menos 30 anos (período habitual de desclassificação dos documentos), o que permitiria fazer uma História em tempo real. Isto faz perder o ideal que o historiador precisa de ver o contexto, a grande paisagem temporal, para fazer um juízo distanciado. De outro lado, quis-se saber a quem interessa esta fuga de informação. Parece que ninguém no mundo ficou satisfeito, embora as decisões dos líderes políticos e governamentais tenham de ser transparentes e não feitas com interesse próprio ou de grupos a que pertencem. Isso leva a uma terceira questão: a da perda de autoridade do Estado, pois nem sequer consegue guardar os seus segredos. A internet, ao permitir a existência de cópias de segurança em muitos computadores, logo a possibilidade de muitas pessoas acederem a ficheiros comuns, cria a probabilidade de mau uso desse acesso reservado. Depois de 11 de Setembro de 2001, os Estados Unidos ligaram as suas duas principais redes de partilha de informação reservada, o que elevou o risco de divulgação desadequada, o que veio a acontecer.

Tópico 3 - velhos e novos media. A greve dos controladores aéreos em Espanha, ao contrário do colapso por dias das ligações aéreas europeias há uns meses provocado por um vulcão islandês, teve um desfecho rápido. O governo (espanhol) tomou imediatamente uma posição dura contra os controladores, enquanto os clientes se queixaram através dos media e as empresas aéreas reportaram logo os seus prejuízos. As decisões após o começo da greve foram comunicadas massivamente pelos media, o que levou a uma resolução mais imediata. Mas como combinaram os controladores de forma tão imprevista e na totalidade dos seus profissionais? A meu ver, e como aconteceu após o 11 de Março de 2004 (atentados em comboios em Madrid), a comunicação terá sido através de mensagens de telemóvel e email. Ainda não há evidências escritas sobre esta última frase, mas, se acontecer, ilustra que os novos media são bons a organizar, indo do segredo à publicitação da acção, e o velho meio (televisão) veicula as posições oficiais, como as conferências de imprensa do governo espanhol, e até as posições populares (vox populi) através dos seus relatos pessoais.

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