Flores para Mim é uma peça de Abel Neves, com encenação de Natália Luiza e com Elsa Galvão, Rui M. Silva, Sara Leitão e Teresa Sobral na interpretação, em actuação no Teatro Meridional (rua do Açúcar, Lisboa).
Conta a história de Catarina, deficiente motora (movimenta-se em cadeira de rodas), alguém revoltada com a sua vida e que se refugia no passado, Jaime, a sua antiga paixão, Rita, tia daquela, e Mirita, a nova namorada de Jaime. A sala da casa de Catarina, onde decorre a acção, é, primeiro, o lugar da lembrança do encontro que não teve (o quarto de hotel barato). Depois, é o sítio, entretanto reformulado, onde Jaime e Mirita procuram alterar a rotina, perfumada com o aroma das flores. Há uma cumplicidade de acções antigas que nem todas as personagens sabem das outras mas que o enredo a revela aos espectadores, e que amarra essas personagens num jogo de aproximação e afastamento. Jaime é, pelas experiências anteriores, o centro da história dramática. Ele, contudo, não soube resolver convenientemente os problemas e aparece-nos ora arrependido ora quase indiferente para com a situação. Cobarde, é como Catarina o define, convidando-o a não voltar a aparecer na sua casa. E igualmente para Mirita, afinal a namorada do seu antigo amor, que lhe surgiu uma última vez com os olhos com orvalho (lágrimas). Ela queria ficar sozinha em casa, liberta da pressão dos que a queriam "ajudar" e das histórias do passado.
Trata-se, assim, de um trabalho sobre a condição humana e a sua imperfeição, em especial quando os defeitos são deficiências e estas são vistas com compaixão ou esquecimento, protelando o reconhecimento da pessoa e dos seus sentimentos.
Peça de e sobre a actualidade, além da história em si chama a atenção para a compreensão do outro e para a necessidade de preparar meios de acesso a esse outro. A peça é muito sóbria, muito bem representada, com um texto por vezes irónico (ou explorando a ingenuidade da personagem Mirita) mas agradável.
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