[texto inicialmente publicado em http://industrias-culturais.hypotheses.org/20383, a 8 de março de 2012]
A expressão nasceu em 1966 (ver texto da rubrica "POPularucho" do suplemento "Mosca" do Diário de Lisboa, de 4 de outubro de 1966, na primeira imagem) e referia-se depreciativamente ao estilo musical de intérpretes como Cidália Meireles, António Calvário, Madalena Iglésias, Artur Garcia, Gabriel Cardoso, muitos deles associados à produção musical da Emissora Nacional. A rubrica era escrita habitualmente num tom muito irónico, assinado por J.V. (no artigo de 7 de Junho de 1966), João Paulo Guerra, como indica a Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX (2010, p. 900, volume L-P) na entrada "nacional-cançonetismo". O estilo irónico é melhor empreendido no artigo de 9 de Agosto de 1966 (segunda imagem), onde o jornalista usa termos como música popular portuguesa, música ligeira portuguesa, música ligeiríssima portuguesa, canção popular portuguesa, canção de namoro, canção clubista, cantores da vida e movimento de continuidade.
O suplemento "Mosca" do Diário de Lisboa, dirigido por José Cardoso Pires, afirmou-se por uma linguagem moderna e oposicionista às linhas estéticas e políticas do regime de Salazar. A expressão nacional-cançonetismo está nos antípodas da linha de orientação do regime, que poderíamos encontrar em Pedro Santos. Este, na sua coluna semanal da revista Plateia, perorava contra a música estrangeira de ritmos modernos, chamando-lhe "tchim-pum" e pugnava pela renacionalização da música portuguesa objeto de uma campanha de desnacionalização nos programas de rádio, isto é, desaparecimento da música nacional face à estrangeira. Os Beatles e o programa Em Órbita, que João Paulo Guerra aplaudia, mereciam a total desconfiança de Pedro Santos (coluna "Impressões de um radiouvinte", Plateia, 31 de outubro de 1967).
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