sexta-feira, 21 de junho de 2013

O punk em estudo universitário

punkHoje à noite, no Gallery Hostel Porto, foi apresentado o projecto A different kind of tension, com Paula Guerra, Andy Bennett, Carlos Feixa e Hugo Ferro. Para Paula Guerra, o projecto, agora com um ano de investigação e mais dois pela frente, envolve perspectivas distintas como sociologia, história, antropologia, psicologia, media e jornalismo sobre o punk, desde 1977.

A socióloga chamou a atenção para a necessidade de uma cartografia do punk, com recolha de informação como os fanzines e edições discográficas, pelo que a Hemeroteca de Lisboa e a Bedeteca de Lisboa, Anoise Recs, Raging Planet, República dos Kágados e outras instituições estão envolvidas no estudo liderado pela Faculdade de Letras do Porto.

Como objectivos, Paula Guerra identificou o estudo da genealogia do movimento punk em Portugal, relação com idade e género, lugar e normalização do risco, memória e artefacto, culturas juvenis, cosmopolitismo e resistência, intervenção dos movimentos sociais. A constituição de um arquivo virtual é um dos alvos a atingir com o projecto, onde já foram feitas 60 entrevistas em profundidade em Lisboa, Porto e Braga.

  punk

Verifica-se que o movimento punk é predominantemente masculino (como resultado, 90% das entrevistas foram a homens). Há uma base de bandas organizadas desde 1977: cerca de 600. Alguns indivíduos chegaram a estar envolvidos na constituição de diversas bandas. Também já foi feito um levantamento de 400 textos de músicas, estando agora a proceder-se a uma análise de conteúdo sociológico. Outros resultados saídos do primeiro ano do projecto: dois artigos científicos e um documentário em construção.

Por seu lado, Andy Bennett destacou a importância de ser o primeiro projecto no mundo sobre o punk a ser financiado por uma instituição ligada à investigação (FCT). O punk, além da música, é um estilo de vida e um modo de adição, e a sua pesquisa leva-o a ser comparável, em termos de importância, ao rock e ao reggae, destacando-se a tolerância, o cosmopolitismo e a globalização. Já Carlos Feixa, cujo primeiro livro foi sobre a cultura juvenil do punk, descreveu-a a partir de quatro elementos: 1) filosofia (relação do dandy, do flaneur e do punk), 2) arte (movimentos de vanguarda: dada, surrealismo, punk), 3) música (rock na década de 1950, pop na década de 1960, punk na década de 1970), 4) subcultura (skinhead, rastafari, punk), e 5) contracultura (beatniks, hippies, punk).

O punk, para Feixa, aparece sempre como síntese e superação de contradições nos movimentos anteriores. Daí, ele traçar cinco tensões: 1) espaços sociais (hegemonia versus subalternidade), 2) espacialidade geográfica (local versus global), 3) geracional (juvenil versus transgeracional), 4) consumo (comercial ou personalizado do it yourself), 5) identitário (colectivo versus individual).

Finalmente, Hugo Ferro, que se considera um “inflitrado” no projecto, traz um contributo mais pessoal ao procurar encontrar as origens e as ramificações do punk em Portugal. Se a palavra aparece a primeira vez numa crítica musical em 1969, no Reino Unido, há ainda pouca informação sobre o começo e crescimento do movimento do punk no nosso país. Um dos responsáveis, já falecido, seria António Sérgio, na Rádio Renascença e numa coluna em Música e Som.