terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

José-Augusto França

Na "Revista" do Expresso de sábado passado, um dos destaques dados foi a José-Augusto França, apresentado como crítico, historiador de arte e um dos vultos mais importantes da cultura nacional do século XX.

Nascido em Tomar, cidade a quem doou o seu património de mais de cem obras [como aqui escrevi], já no longínquo ano de 1922, tem mais de 90 obras publicadas, entre as quais romances, livros e artigos de especialidade. Em 1976, criou o Departamento de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa. No final de 2013, lançou o seu segundo livro de memórias.

O seu interesse pela arte começou quando ia aos domingos de manhã com o pai ver o Museu de Arte Antiga. Na entrevista, diz que o pai gostava de Columbano mas não de Malhoa, "o que era bom sinal". O pai de José-Augusto França queria ser intelectual, tendo chegado a ser jornalista em Tomar e a escrever uma peça de teatro, mas acabaria por se instalar em Lisboa como contabilista. Depois, em 1938, o jovem França viu as primeiras obras de Almada Negreiros. O seu primeiro contacto com o modernismo foi a Exposição do Mundo Português. Via e namorava ao mesmo tempo. Em 1945, partiu para África, para Luanda, onde permaneceu um ano e escreveu um romance (Natureza Morta) sobre a escravidão negra.

Regressado a Lisboa, assinou as listas do MUD (Movimento de Unidade Democrática) e casou-se. Conheceria Castro Soromenho, a quem mostrou o texto do romance escrito em Angola, e ainda Casais Monteiro, António Pedro e os surrealistas. Em Paris, conheceu Picasso. Também visitou a exposição de Cândido Portinari. Isso virou a vida de José-Augusto França, que desenvolveu a sua visualidade.

Após escrever um livro sobre Amadeu Souza-Cardoso, ofereceu um exemplar a Pierre Francastel, sociólogo de arte que leccionava na École des Hautes Études. Com uma bolsa do governo francês, França fez a licenciatura e o doutoramento naquela escola, ele que deixara arquitectura a meio, com a morte do pai. Nascia a tese sobre o marquês de Pombal, a partir dos estudos das plantas de Lisboa. Depois do doutoramento, ainda ficou em Paris, a escrever nos Cahiers du Cinéma, quando Francastel o convidou para seu assistente, que não aceitaria. Em contrapartida, estudou a arte em Portugal no século XX.

Ele teve pena de não ter conhecido António Ferro, quando Salazar o mandou embora para a Suíça. José-Augusto França esteve em Berna, até tinha um cartão para Ferro, mas não o visitou. Ferro representava o SNI e ele estava do outro lado. "Estupidez. Teria gostado de o conhecer. Mais tarde, escrevi sobre ele e entendi-o", diz na entrevista a Ana Soromenho para o Expresso, que segui linearmente.

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