Manuel Eduardo José Guedes Coelho Moreno Dion nasceu em Abril de 1922 em Lisboa. Adoptou o nome profissional de Guedes de Dion. Em 1950, publicou um livro intitulado Pedras de Fogo e Cinza, um interessante conjunto de contos que eu, na sua leitura, procurei desconstruir. O meu objectivo era compreender como se vivia em Lisboa naquela época.
São onze contos. O primeiro chama-se "Reportagem na Europa" e conta a história de um jornalista que viaja de navio dos Estados Unidos para a Europa e que lhe é dado conhecer um passageiro que procura encontrar a sua mulher em Espanha, que o havia abandonado e fugido com outro homem. "Carta para Lisboa", a segunda história, descreve a presença de um caixeiro-viajante no Alentejo e o seu conhecimento de uma família em cuja casa pernoita nesse dia e recebe o pedido da jovem adulta desse lar para ser portador de uma carta para o seu marido, então a trabalhar em Lisboa. O penúltimo conto, "Madrugada no casino", narra a história de um homem que, todas as noites, joga e perde muito dinheiro no casino e paga refeições a um número crescente de "amigos". As mulheres também o rodeiam. No final, o "engenheiro", como gostava que o tratassem, saiu do casino, acompanhado de dois polícias. Era, afinal, um burlão. Uma das histórias mais marcantes do livro é a que dá pelo título "O telefone tocou às 5", em que duas mulheres conversam, ou melhor, criticam a pequena alta sociedade em que se inserem. O conto é um retrato da frivolidade de uma camada social da Lisboa de 1950.
Mas o que me levou a escrever sobre o livro de um autor esquecido é o seu último conto: "Noticiário das Dez". O autor narra a história de Jorge, seu velho camarada da escola básica e do reencontro entre ambos quinze anos depois, já homens feitos e com uma história de vida completa. Jorge gastara mal muito dinheiro do seu pai, que o expulsou de casa e, com isso, o obrigou a uma árdua vida de trabalho. Empregado de mesa num paquete, quando regressou a Lisboa, procurou um novo emprego. Como que por milagre apareceu-lhe um lugar na secretaria de uma estação de rádio. Vencimento mensal: novecentos e cinquenta escudos. Rapidamente, as suas qualidades vieram ao de cima e concorreu e obteve um lugar de locutor na mesma estação. A prova de acesso ao lugar consistia em ler um texto em português, em francês e em inglês. Empregado de mesa habituado a servir gente de muitos países, as provas sairam-lhe muito bem. Pouco tempo depois, subia mais um degrau na responsabilidade da estação de rádio, em especial os serviços de exterior. No ano de 1945, um dos acontecimentos internos mais importantes seria uma cheia no Ribatejo, o que o obrigou a deslocar-se à lezíria para fazer a reportagem. Chegado à estação, todo molhado e sem ter jantado, ele ia ler o noticiário das dez, mas o director dispensou-o, passando o serviço a outro colega. Na viagem de táxi de regresso a casa, ele ouvia, pela voz do seu colega, que o seu pai, então administrador-geral do Banco Imperial, falecera. Desde que começara a trabalhar na rádio, ele quisera fazer as pazes e pedir desculpa ao pai, mas não conseguira. Agora, ia fazer-lhe a última despedida.
Guedes de Dion, com esta história, que pode ser lida no slideshare acima, mostra como funcionaria uma redacção de rádio, assente em serviço de notícias e reportagens. Guedes de Dion seria, naquela época, produtor radiofónico. Há um som de reportagem sua que pode ser ouvido aqui.
São onze contos. O primeiro chama-se "Reportagem na Europa" e conta a história de um jornalista que viaja de navio dos Estados Unidos para a Europa e que lhe é dado conhecer um passageiro que procura encontrar a sua mulher em Espanha, que o havia abandonado e fugido com outro homem. "Carta para Lisboa", a segunda história, descreve a presença de um caixeiro-viajante no Alentejo e o seu conhecimento de uma família em cuja casa pernoita nesse dia e recebe o pedido da jovem adulta desse lar para ser portador de uma carta para o seu marido, então a trabalhar em Lisboa. O penúltimo conto, "Madrugada no casino", narra a história de um homem que, todas as noites, joga e perde muito dinheiro no casino e paga refeições a um número crescente de "amigos". As mulheres também o rodeiam. No final, o "engenheiro", como gostava que o tratassem, saiu do casino, acompanhado de dois polícias. Era, afinal, um burlão. Uma das histórias mais marcantes do livro é a que dá pelo título "O telefone tocou às 5", em que duas mulheres conversam, ou melhor, criticam a pequena alta sociedade em que se inserem. O conto é um retrato da frivolidade de uma camada social da Lisboa de 1950.
Mas o que me levou a escrever sobre o livro de um autor esquecido é o seu último conto: "Noticiário das Dez". O autor narra a história de Jorge, seu velho camarada da escola básica e do reencontro entre ambos quinze anos depois, já homens feitos e com uma história de vida completa. Jorge gastara mal muito dinheiro do seu pai, que o expulsou de casa e, com isso, o obrigou a uma árdua vida de trabalho. Empregado de mesa num paquete, quando regressou a Lisboa, procurou um novo emprego. Como que por milagre apareceu-lhe um lugar na secretaria de uma estação de rádio. Vencimento mensal: novecentos e cinquenta escudos. Rapidamente, as suas qualidades vieram ao de cima e concorreu e obteve um lugar de locutor na mesma estação. A prova de acesso ao lugar consistia em ler um texto em português, em francês e em inglês. Empregado de mesa habituado a servir gente de muitos países, as provas sairam-lhe muito bem. Pouco tempo depois, subia mais um degrau na responsabilidade da estação de rádio, em especial os serviços de exterior. No ano de 1945, um dos acontecimentos internos mais importantes seria uma cheia no Ribatejo, o que o obrigou a deslocar-se à lezíria para fazer a reportagem. Chegado à estação, todo molhado e sem ter jantado, ele ia ler o noticiário das dez, mas o director dispensou-o, passando o serviço a outro colega. Na viagem de táxi de regresso a casa, ele ouvia, pela voz do seu colega, que o seu pai, então administrador-geral do Banco Imperial, falecera. Desde que começara a trabalhar na rádio, ele quisera fazer as pazes e pedir desculpa ao pai, mas não conseguira. Agora, ia fazer-lhe a última despedida.
Guedes de Dion, com esta história, que pode ser lida no slideshare acima, mostra como funcionaria uma redacção de rádio, assente em serviço de notícias e reportagens. Guedes de Dion seria, naquela época, produtor radiofónico. Há um som de reportagem sua que pode ser ouvido aqui.
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