Hoje, li a imprensa do começo da década de 1970. De repente, fiquei surpreendido. Já esquecera. Não se diziam as coisas mas percebia-se que o regime político estava com muitas dificuldades. A artista Io Apolloni a fazer streap-tease numa peça de teatro (a actriz diria que apenas tirara o casaco que cobria o seu corpo e as fotografias comprovam isso, apesar da crítica criticar essa postura), a cantora Suzy Paula a falar das suas mini-saias e dos seus maxi-casacos, o programa de televisão de João Martins Ensaio suspenso antes de começar, o intérprete Tony de Matos a criticar os baladeiros que "chegam aos palcos ou às câmaras e dizem que a música é deles, que a letra é deles, que a guitarra é deles [...] só as canções é que continuam a não prestar" (Rádio & Televisão, 7 de Março de 1970). Mas havia um imitador fantástico chamado Mena Matos: ele era um "dos que a falar se arrisca muito" (Rádio & Televisão, 14 de Fevereiro de 1970). Na Gulbenkian, em 1972, discutia-se a música ligeira e escrevia-se um abaixo-assinado. Diversos músicos e cantores que brilhariam na segunda metade da década estavam presentes, bem como locutores e outros profissionais dos media. Sentia-se no ar que alguma coisa se ia dissolver. Curiosamente, a melhor imitação de Mena Matos era a voz de Salazar. Dizia ele: "Ouço as vozes, procuro fixar os seus pontos característicos e ensaio meia dúzia de vezes. [...] existe certa dificuldade quando, num espectáculo, tenho de fazer sete ou oito imitações consecutivas, praticamente sem intervalo".
Precisam-se novos imitadores. Há muitas dificuldades, outra vez.
Precisam-se novos imitadores. Há muitas dificuldades, outra vez.
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