Todos os anos, recordo aqui como comecei a escrever em blogues. No início, José Carlos Abrantes (professor de Teoria e História da Imagem na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e na Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa, provedor dos leitores do Diário de Notícias e dos telespectadores na RTP) e eu demos animação a um blogue do CIMJ (Centro de Investigação Media e Jornalismo). Outros colegas participavam na escrita de textos mas nós mantivemos uma colaboração mais intensa, depois transferida para blogues pessoais.
O meu primeiro blogue chamou-se Teorias da Comunicação, iniciado em Março de 2003, seguindo-se este Indústrias Culturais. Quer um quer outro destinavam-se a apoios de aulas que eu então leccionava. Depois, descontinuei o blogue Teorias, não sabendo agora sequer o endereço na internet. Os textos desse blogue acabaram por ser transferidos para este. O blogue Indústrias Culturais serviu, ao longo deste tempo todo, várias funções. Uma delas, foi a edição de um livro, com um texto inicial feito de raiz para esse objectivo. Outra foi a participação em colóquios e congressos em Portugal, Espanha e Brasil. Ele também serviu para experimentar outros media como a produção de pequenos vídeos de informação (sem qualquer ambição estética mas dando conta de teses de doutoramento sobre comunicação, cultura e media, por exemplo).
No começo da actividade dos blogues, em 2002-2003, eles eram pensados como ferramentas tecnológicas revolucionárias. Por exemplo, pensava-se que o jornalismo seria substituído pelos blogues, dada a nova possibilidade de fácil produção de textos por toda a gente. Com redes sociais mais amplas como o Facebook, criou-se a ideia de o utilizador ser também produtor de conteúdos, que, sem ser errado, criou um dos melhores mitos em torno do sublime tecnológico - a ideia que a tecnologia em si muda a sociedade. Ora, muitos dos textos produzidos na internet não têm qualidade e muitos até são ofensivos. A eliminação de controlo de qualidade ou de uma espécie de editor que classifica as ideias e os modos como se publicam textos - a ausência de regras e códigos deontológicos - conduz a uma imensidão de textos e imagens que se repetem e sem preencherem o requisito do produtor-utilizador na acepção correcta da ideia.
Quando surgiram os blogues, criou-se uma espécie de comunidade de autores-escritores que se reuniam, marcavam almoços e jantares. Eu estive presente no Alentejo, em Coimbra, no Porto e aqui em Lisboa a testemunhar esse nascimento. Como se criou, o movimento esvaiu-se. Por esses anos, intentaram-se criar redes de blogues. Estive para participar numa rede de blogues portugueses, com a ideia de também angariar publicidade. Acabei por participar numa rede de blogues liderada pela universidade de Marselha (França), de que ainda mantenho a escrita, que é uma cópia do que aqui escrevo. No início, a adesão de algumas das personalidades públicas a este tipo de escrita serviu para a sua massificação, além da grande facilidade de escrita nestas plataformas. Uma das personalidades públicas que mais contribuiu foi José Pacheco Pereira com o seu blogue Abrupto.
Muitas das cerca de oito mil mensagens que já produzi não tem valor excepto darem conta de ocorrências, tipo lançamento de livros ou actividades programadas para um dia. Mas, muitas das vezes, funciona como uma espécie de diário. Aliás, a ideia original de blogue era essa, a de escrita (e publicitação para um público que não se conhece) de um diário, como a palavra espanhola aplicada a este trabalho - bitácora. Com a expansão de outras redes mais colaborativas, como o Twitter e o Facebook, o blogue ressentiu-se, perdeu adeptos e escritores, que se passaram para essas redes.
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