Anteontem, dia 22 de Dezembro, o jornal Público editou uma entrevista com Charles Esche, director do Van Abbemuseum (Eindhoven, Holanda, com quadros de Picasso, Chagall, Kandinsky, El Lissitzky, Theo van Doesburg e Mondriaan, entre outros).
Depois de criticar o Estado actual ("Ao fracasso do Estado em se adaptar a contextos e necessidades em mutação, ao fracasso do modelo do Estado providência, dos serviços nacionais de saúde, da ideia de que a cidadania é partilhada pelas pessoas e que, portanto, todas têm certos direitos, a própria ideia dos direitos que derivam de uma cidadania e dos deveres que lhe estão associados"), entra na definição do papel de agente de reinvenção do Estado ("Um dos conceitos para que me parece que devemos olhar com atenção é o dos commons, um conjunto de valores ou de bens que não têm um proprietário individual, mas colectivo. O Estado manteve para si durante muito tempo a ideia de commons, agora parece-me que há oportunidade de generalizar a ideia de propriedade colectiva. E parece-me que as próprias instituições artísticas incorporam já em si o conceito de common. As colecções dos museus, por exemplo: de certa forma, são já propriedade partilhada").
Mais à frente, responde à entrevista dada a Vanessa Rato que a arte, além de experimental, "deve também implicar-se em termos de organização social. De novo: é qualquer coisa que os puristas, os modernistas, vão rejeitar, mas se virmos a arte como tendo uma função, uma delas tem que ser imaginar qualquer coisa que ainda não existe. Isto é necessário e verdade em qualquer processo criativo, quer seja socialmente criativo, individualmente criativo ou mesmo criativo em termos capitalistas, de criação de um novo produto: o processo de imaginar o que ainda não existe é fundamental – se não conseguimos imaginar, será muito difícil criar". E conclui o seu pensamento com a seguinte posição: "A arte pela arte existiu dentro de uma estrutura socio-politico-económica específica, um contexto de excesso produzido pela burguesia, que achava que a arte não devia ter uma função porque a sociedade era rica ao ponto de poder conceber um fora do utilitarismo. Nessa sociedade, a arte recebeu um papel específico, um papel que, à sua maneira, também era político. E no período da Guerra Fria essa arte pela arte foi instrumental, servia para provar a liberdade do mundo ocidental por oposição à instrumentalização que o leste fazia da arte e dos artistas. [...] No museu usamos a expressão espanhola “arte útil”. A ideia da arte como ferramenta [porque, em castelhano, “útil” quer também dizer ferramenta] parece-me mais sedutora do que a ideia de uma arte utilitária. Creio que transmite bem a capacidade da arte em assumir um papel funcional dentro das estruturas de pensamento. E isto implicará determinadas características: uma arte útil terá uma relação real com o mundo, não será apenas simbólica, não usará apenas uma linguagem simbólica, mas fará propostas reais para mudanças reais do mundo real, satisfará talvez uma necessidade ou produzirá um resultado com efeitos fora das instituições da arte". Aqui, identificaria John Ruskin e William Morris como autores ou artistas que resistiram à industrialização, a partir do qual se pode trabalhar um "conceito como o de arte útil [que] recorda que a arte pode ter uma função genuína na sociedade".
A ler na íntegra aqui.
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