sábado, 2 de janeiro de 2016

Audiências de televisão em 2015 e jornalismo de referência

Retiro do Diário de Notícias online: "Os quatro canais generalistas registaram, em 2015, uma quota de mercado inferior à do ano anterior. A TVI continua a ser o canal preferido dos portugueses (22,5% de share em 2015 e 23,5% no ano anterior). A SIC segue em segundo lugar (18,7% em 2015, 19,1% em 2014), a RTP1 em terceiro (14,8% em 2015, 15,6% no ano anterior). A RTP2 registou 2% de share em 2015, menos uma décima do que em 2014. Números que se explicam com o crescimento de audiência dos canais por cabo, tendência que já se verifica de alguns anos a esta parte: assim, o conjunto de canais de cabo registou, em 2015, um share de 31,1% (contra os 29,3% do ano anterior). No segmento dos canais de informação, de assinalar a tendência de crescimento da SIC Notícias e da TVI24 e a queda da RTP3. O canal de notícias da SIC registou, em 2015, um share de 1,9% (1,7% em 2014). A TVI24 subiu dos 1,3% de 2014 para 1,6% em 2015. O canal de informação da estação pública de televisão caiu uma décima (0,9%)".

A descida dos canais generalistas e a subida dos canais por cabo acompanha, noutros media, a quebra de leitura de jornais em papel e o crescimento do consumo da internet nomeadamente em telemóveis inteligentes, situação verificável nos últimos anos. A interatividade e a autoedição tornam-se cada vez mais atrativas do que a receção passiva. Mas falta a edição crítica e de referência, como se lê no artigo de José Pacheco Pereira hoje no Público: "Os jornalistas têm um grande masoquismo, para não lhe chamar outra coisa, ao dar estatuto noticioso às “redes sociais”, sem a mediação e edição jornalística". E ele conclui: "cada vez mais o chamado “jornalismo de investigação” está no centro do jornalismo que ainda sobrevive em papel". Ou Alexandra Lucas Coelho, no dia 27 de dezembro último com o texto Para não acabar de vez com os jornais (e a democracia), onde ela lamenta o desaparecimento de jornais como Sol e i, os despedimentos no Público, a sua condição de colaboradora após a vaga anterior de despedimentos de jornalistas. Ela pede que o Público, dado ser um "perdório" de dinheiro desde o seu início, que se transforme em modelo de fundação e se defina como meio de responsabilidade social.

A quebra de audiências nos canais generalistas tem consequências, como menos trabalho e encomendas mas o modelo parece condenado, pela perspetiva generalista dos canais. Houve esse tempo de ouro do modelo generalista mas agora há uma inclinação para a especialização temática. Contudo, à perda de audiências dos canais generalistas assiste-se a um aumento do poder negocial dos operadores de telecomunicações, evidente nos negócios das três últimas semanas com os clubes desportivos mais fortes em Portugal. Esse maior poder negocial dos operadores de telecomunicações transfere para estes as decisões de conteúdos, o que não é igualmente bom para o pluralismo de expressões culturais.

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