Ler o livro de Michel Melot Uma Breve História da Imagem (2015) foi um grande prazer. O autor divide o livro em nove capítulos, combinando elementos diacrónicos e sincrónicos (ao longo do tempo e no espaço), quase sempre explicativo mas expositivo, com muitas referências a avanços tecnológicos e modos de ver e agir ao longo do tempo. Percorrer a bibliografia seduz igualmente, pois inclui autores clássicos e investigadores nas áreas da imagem e da comunicação, alguns deles igualmente muito gostosos de ler.
Sem ser exaustivo nem pretender fazer uma ficha de leitura nem uma crítica literária do livro, retiro algumas ideias. Uma delas releva Tim Berners-Lee, o iniciador da internet, que será um dia tão importante como Gutenberg e Nièpce (p. 96). A imagem, a quem a eletrónica deu interatividade, assemelha-se a uma linguagem. Escreve Melot no começo da obra que a imagem - com as suas formas materiais: quadro, fotografia, filme - é como o texto - que se distingue da escrita - e a palavra - que se distingue da voz (p. 11).
Outra ideia é a importância da imagem nos media em papel. De início, era custoso e demorado reproduzir uma imagem. Apenas em 1789 um jornal de Amsterdão inseriu duas águas-fortes coloridas à mão (p. 68). A litografia, inventada em 1796, levou ao nascimento da imprensa ilustrada. Mais tarde, em 1833, uma outra publicação, com duas máquinas a vapor, ilustrava oito páginas e imprimia 1800 páginas por hora. Graças à litografia, um desenho a lápis gordo sobre pedra retinha a tinta e permitia a sua reprodução,
Imagem e som são duas partes de um todo, como se viu com o cinema. Este surgiu com os irmãos Lumière, em 1895, com filme flexível e sincronização das imagens (p. 82). Faltava a palavra, pelo que o cinema permanecia poesia muda. Como no teatro, o acompanhamento sonoro era feito por um piano. Edison criou uma empresa de onde sairiam máquinas essenciais para a comunicação moderna: fonógrafo, telégrafo, microfone. Depois, em 1910, há uma primeira gravação simultânea de imagem e som. O cinema foi sonorizado em 1919.
Gosto particularmente dos primeiros capítulos, onde o autor trabalha as imagens das grutas aos templos e a passagem dos ídolos aos ícones. Mas sigo com atenção maior quando escreve sobre o primeiro quadro e sobre os seus antepassados pictóricos: mosaico e fresco ou até tapeçaria (p. 42). Os artistas italianos da Toscana do século XIII abandonavam o modelo hierático dos ícones bizantinos e especificavam a representação, a luz, a leveza dos tecidos e a expressão dos rostos. O primeiro quadro, definido por uma moldura, quando entra na Biblioteca Nacional de França, fica classificado como documento e apenas quando é depositado no Museu do Livro adquire um estatuto independente. Separado do políptico que ornamentava o altar da igreja, diferencia-se também do livro onde aparecia como iluminura (p. 44).
Uma última palavra sobre o tradutor e introdutor da obra: Aníbal Augusto Alves, professor da Universidade do Minho. Ele enfatiza o que aprendeu ao ler e traduzir o livro em termos de uma nova visão da imagem. Por outro lado, sobre a obra, destaca a construção analítica e reflexiva a par da descritiva e informativa. Melot é uma espécie de guia que nos leva por uma longa viagem no tempo. E o tradutor alerta-nos para a importância de alguns títulos de capítulos, como BD, a bastarda do livro e da imagem, e do pixel, como o novo poder da imagem.
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