Mari Trini (María Trinidad Pérez de Miravete Mille, 1947-2009) foi uma cantora espanhola muito popular nas décadas de 1970 e 1980, com a edição de 25 discos, alguns contendo êxitos como Escúchame (1971) e Yo no Soy Esa. Com frequência, foi comparada à francesa Edith Piaff, em especial por se expressar com melancolia e voz íntima.
Ela aprendeu a tocar viola ainda muito nova, quando esteve um longo período doente, por doença renal crónica, entre os sete e catorze anos. Quando o médico lhe disse não haver cura, saiu da cama e calçou os seus primeiros sapatos de tacão alto. Em Madrid, cantou no clube Nicha, impressionando o realizador americano Nicholas Ray, que a aconselhou a ir estudar arte dramática em Londres. Uma promessa de ela entrar em filme de Ray não se concretizou e ela foi para Paris em 1963, onde esteve cinco anos e conheceu Jacques Brel e editou o seu primeiro disco (Bonne Chance).
Após a morte do seu pai em 1967, a cantora regressou a Espanha e tornou-se a Juliette Greco espanhola. Foi um período rico para a música popular espanhola. A oposição ao ditador Franco, apoiada nas ondas de choque do maio de 1968 em Paris, criou uma audiência para os cantores de protesto. A música de Mari Trini ganhou uma perspetiva política. Um estilo boémio, apoiado no uso de calças jeans, deu à cantora um maior reconhecimento. Ao cantar em 1972 Yo no Soy Esa (Essa não sou eu / Eu não sou uma simples e sossegada rapariga), soou como um grito de liberdade a uma nova geração. Lésbica, foi sempre muito questionada por não mostrar namorados, numa época em que era impossível associar carreira e diferente orientação sexual.
No final de 2005, ela publicou um disco duplo e um vídeo. Pouco antes de morrer, estava a preparar um concerto de despedida da sua carreira e um livro de poemas. A 14 de setembro de 2005 recebeu uma homenagem na Sociedad General de Autores y Editores (SGAE), por reconhecimento da sua trajetória artística e a região de Murcia premiou-a, em 8 de março de 2008, com o galardão "Lucha por la igualdad".
Agora, Helena Bianco, nascida no mesmo ano de Mari Trini e sua amiga, fez um espetáculo de tributo, muito equilibrado e onde ressaltaram as canções de amor da cantora de Murcia.
[parte do texto baseado no obituário publicado no jornal The Guardian, de 22 de abril de 2009]
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