sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Publicidade em 1938

 Enquanto procuro informação sobre a rádio no Diário de Lisboa, recolho publicidade de outras áreas e que me parece pertinente para compreender a evolução de gostos num dado momento. Julgo que seriam os primeiros anúncios de meias de vidro, aqui da marca Kalio, publicitadas como conforto e sedução, feitas de seda animal do Japão. Um deles dizia explicitamente que o olhar do homem vê primeiro o rosto - e as narrativas do creme Tokalon eram significativas - e depois as pernas. Esta publicidade seria hoje bem desconstruída, por carregar valores agora em ruína. Junto ainda um anúncio a frigoríficos, que igualmente me parece o primeiro a ser promovido na imprensa, da marca General Electric. Outro seria um anúncio a trem de cozinha, marca Superra, a meu ver o menos significativo. O público-alvo era o feminino, talvez o único setor do jornal a pensar nele, pois nem sequer possuía uma página dedicada às mulheres, como outros jornais já avançavam. Observo aqui uma distinção, ainda que imperfeita, entre os domínios público (as meias enquanto a mulher está na rua ou no escritório) e privado (o lar e as modernidades do frigorífico, do recetor de rádio e do ferro de engomar elétrico). Assim como a concretização do ideal de mulher em objeto - dividido em partes como rosto e pernas -, apoiada na imaginação, pois os desenhos apenas permitiam a aproximação à realidade, admitindo que a fotografia é já a realidade, embora ainda seja uma representação. A agência de publicidade por detrás de várias destas informações era a Havas, com certeza em grande atividade nesse ano de 1938 - a par da produção de notícias internacionais para os jornais nacionais.




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