CULTURAL STUDIES
[a partir de: Armand Mattelart e Érik Neveu (1996). Les cultural studies. Réseaux, nº 80]
Em finais do séc. XIX, preconizava-se o ensino da literatura inglesa nas escolas do Estado, de forma a transmitir valores morais e cívicos para pacificar e integrar as classes trabalhadoras. O ensino de estudos ingleses nas universidades operou-se entre as duas guerras mundiais, fruto da iniciativa de professores saídos da pequena burguesia. Um dos elementos mais notáveis foi Frank Raymond Leavis, que fundou em 1932 a revista Scrutiny, tornada centro de uma cruzada moral e cultural contra o “embrutecimento” praticado pelos media e pela publicidade. A revista preparou os cultural studies. Tornava-se clara uma posição face ao meio ambiente industrial da cultura.
Os estudos culturais conheceram a sua verdadeira institucionalização em 1964, com a criação do Centre of Contemporary Cultural Studies, de Birmingham (CCCS), com o objectivo de estudar “as formas, práticas e instituições culturais e as suas relações com a sociedade e a mudança social”. Em 1957, Richard Hoggart fazia sair um livro fundador do seu campo de estudos: The uses of literacy (em português: As utilizações da cultura, editado pela Presença), em que se estuda a influência da cultura difundida nas classes trabalhadoras pelos meios modernos de comunicação. Dois outros autores fundadores dos cultural studies, Raymond Williams e Edward P. Thompson, possuíam em comum a experiência da educação de adultos. O quarto fundador foi Stuart Hall, jamaicano nascido em 1932. No seu artigo mais famoso sobre a codificação e descodificação dos programas televisivos, formula a pluralidade dos modos de recepção dos programas. Valoriza-se ainda a dimensão da oralidade, das culturas não escritas no trabalho do historiador.
Hoggart foi o primeiro director do CCCS de Birmingham. O CCCS tornou-se um extraordinário espaço de animação científica, funcionando como placa giratória do trabalho de importação e adaptação de teorias, indo do marxismo do continente, da semiologia e do estruturalismo a alguns aspectos da escola de Frankfurt e à herança da escola de Chicago em torno do desvio e das subculturas. Depois, em segundo lugar, o CCCS contribuiu para desenvolver pesquisas em torno das culturas populares, dos media e das questões ligadas às identidades étnicas e de género. Em terceiro lugar, o CCCS distinguiu-se pelo carácter heterogéneo de trabalhos. O Centro partiu de uma base económica muito frágil, a ponto de Hoggart solicitar o mecenato da editora Penguin para dotar o centro com alguns meios e permitir a integração de Stuart Hall.
Um primeiro processo de expansão desenvolveu-se em torno do estudo das culturas populares. Logo depois, a saída de working papers sobre subculturas jovens das classes populares imigradas ou da pequena burguesia – skins, mods, rockers, rastas, hippies – alargou o reconhecimento do CCCS. Deu-se atenção aos universos sociais dos jovens e aos significados dos conflitos geracionais. A questão do desvio e a análise da música pop e rock tornaram-se outros temas fundamentais do CCCS. Acrescente-se as ligações pessoais e as redes científicas (e políticas) assegurando uma circulação e uma fecundação mútua de trabalhos.
Leitura suplementar: Isabel Ferin (2002). Comunicação e culturas do quotidiano. Lisboa: Quimera
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