quarta-feira, 4 de fevereiro de 2004

MEMÓRIA JORNALÍSTICA - III

“Depois, as tiragens do Século iam aumentando dia a dia e o jornal entrando na massa conservadora, pois que só os jacobinos não o sustentavam. Assim o compreendeu o talento artístico de Silva Graça, que não só moderou a linguagem da folha, tornando-a tolerante, como desenvolveu ainda mais a sua informação. Magalhães Lima só lá ia pelas tardes fazer o seu artigo, que também sofria a fiscalização do lápis azul, posto que já de si fosse bastante água morna.

“Em volta da estiva [secretária grande onde se acomodavam os jornalistas], sentavam-se Artur Melo, informador categorizado que pouco sabia escrever, mas que tinha um grande espírito de observação e notável habilidade de investigador; Eugénio Silveira, que era reporter muito considerado e republicano de fama, grande orador e maçon, antigo tipógrafo que se guindara à maior altura do jornalismo; Andrade Neves, moço de singular talento e jornalista de pulso que o abuso do álcool matou; Guilherme de Sousa, o Expessura, que fora meu professor de desenho e que era uma espécie de «Larousse», sabendo de tudo e tudo fazendo no jornal; o Batalhinha, que saíra comigo da Vanguarda; o Manuel Guimarães, que foi depois grande jornalista, orientador de jornais e chefe da redacção do Século, mas que nesse tempo fazia apenas umas notícias de reuniões; o Augusto Peixoto e o Feio Terenas, de quem também me ocupei já.

“A pouco e pouco, depois que eu entrei, foram saindo Eugénio Silveira, Guilherme de Sousa, preceptor dos filhos de Silva Graça, Andrade Neves e todos os que eram republicanos assanhados, sendo substituídos por Vieira Correia, morto há pouco tempo; Alberto Bessa, que foi depois director do Jornal do Comércio; José Sarmento, Francisco Grilo, Guilherme Gomes, genro de Guilherme de Sousa. Eu atrelei-me, por grande simpatia, ao Artur Melo e, na saída de Silveira, tomámos ambos conta da grande reportagem, na qual sempre fizemos o maior dos figurões”.

Extraído de: Eduardo Fernandes (1940). Memórias do “Esculápio”. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, pp. 130-132

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