sexta-feira, 12 de março de 2004

JORNALISMO DE BOAS NOTÍCIAS

"Todas as notícias são boas para imprimir", eis a legenda - numa tradução muito livre - do New York Times. Assim começava um artigo do Independent, de 2 de Março último, que recupero agora. Num momento de profunda tristeza pelo que ocorreu ontem em Madrid.

Dizia a notícia que um editor inglês só publicaria notícias positivas. O seu nome é John Mappin, de 39 anos, que possui três jornais em Londres: "Estamos interessados em notícias positivas e que ajudem". Chama-se a isto um olhar excêntrico, dado os jornalistas - e se calhar as audiências, pelo menos as voyeuristas - estarem acostumados(as) a associar notícias com desastres, coisas mal feitas e traições.

Premonitória [no caso da tragédia de ontem em Madrid] é a sua afirmação: "Se alguém tem uma dieta de [notícias] negativas, de horror, com bombas e mortes, é preciso fazer alguma coisa [com essa pessoa]. Não tenho a certeza do que se pode fazer, mas tem de se fazer". Por isso, Mappin ignora julgamentos, estórias de crimes e outras que tragam medo e isolamento social. Em vez disso, Mappin prefere, como enunciou ele próprio: "contos do triunfo sobre a adversidade". Suponho que isso se traduza em publicitar casamentos de pessoas conhecidas ou menos conhecidas, as festas, a inauguração da fonte ou do estádio local, a criação de novos empregos, a vitória individual sobre um cancro ou outra doença temível. Ou seja, um mundo com uma tonalidade mais cor-de-rosa, que não aterrorize mais quem já ande cheio de medo. Mas está a concorrer com as revistas românticas (ou cor-de-rosa) e as telenovelas, o que pode inviabilizar o seu nicho de mercado.

Mappin é proprietário, desde há cinco anos do Independent London Local Newspapers (o Independent que eu cito apressou-se a dizer não haver qualquer relação entre ambos). Em Dezembro, Mappin publicou um editorial na primeira página intitulado "Caros amigos". A ideia, diz o petulante jornalista do Independent, não é nova. Já Martyn News, que trabalhara na BBC, queixava-se do número insuficiente de boas notícias. E Mappin associa boas notícias com publicidade. Esta sente-se melhor se, ao lado, houver uma boa notícia. Que me lembre, a publicidade é sempre do domínio da informação positiva. Como o é a informação produzida pelas empresas sobre elas mesmas.

O mesmo sarcástico jornalista dá conta das tendências religiosas de John Mappin: ele pertence à Igreja da Cientologia, a mesma de Tom Cruise, Nicole Kidman e John Travolta, mas não é um seu porta-voz. Aliás, ele frisa que se casou com uma muçulmana do Casaquistão, no dia 11 de Setembro de 2001, duas horas antes da destruição das torres de Nova Iorque.

Coincidências!

ESPECTADORES DE CINEMA

Alguém tem de ceder foi o filme mais visto na semana de 26 de Fevereiro a 3 de Março último, segundo o sítio do ICAM, como resultado da informatização das bilheteiras dos cinemas, processo pensado em 1999 e agora em fase de conclusão.

O Diário de Notícias, na sua edição de hoje, destaca o investimento de cem mil euros na informatização das bilheteiras. A apresentação do sistema foi feita ontem na Cinemateca, com a presença de responsáveis governamentais e dos distribuidores e exibidores. Ainda segundo a notícia, assinada por Eurico de Barros, o sistema está já a funcionar em 409 salas, num total de perto de 500 em todo o país. A tabela dos "20 mais vistos" inclui informação do número de espectadores e das receitas acumuladas pelos filmes desde o dia da estreia. Com esta medida, é possível haver fiabilidade nos números de espectadores, filmes e resultados de bilheteira.

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