quarta-feira, 3 de março de 2004

SOBRE UMA ENTREVISTA DE RITA FIGUEIRAS

Com livro apontado para sair este ano na editora Livros Horizonte (colecção CIMJ), Os opinion maker na imprensa de referência portuguesa 1980-1999, Rita Figueiras foi entrevistada no número mais recente da JJ – Jornalismo & Jornalistas. Em trabalho conduzido por Carla Martins, a investigadora e professora da Universidade Católica Portuguesa parte da noção de Espaço Opinião nos media, o qual simula a diversidade e o pluralismo através da presença de múltiplas perspectivas. Melhor dizendo, o Espaço Opinião é um arquétipo do espaço público simbólico em que se encontram o editorial do jornal, os espaços dos fazedores de opinião, os convidados, as cartas de leitor, a ficha técnica, as citações. Nessas páginas, pretende-se simular fisicamente o que se entende por opinião pública, a opinião formada dos vários sectores que compõem a sociedade.

Rita Figueiras identifica e analisa um dos players mais importantes do Espaço Opinião – o Opinion Maker (fazedor de opinião), que exerce uma função crítica (eu diria fortemente opinativa), expressa em artigos e comentários. Por vezes, as suas posições remetem o jornalista para o papel de mensageiro e de pé de microfone. O Opinion Maker é, predominantemente, um não-jornalista, com uma competência determinada (especialista ou, frequentemente, alguém de grande disponibilidade a nível de discurso, dizendo coisas “de uma forma muito acabada, num tom muito peremptório, o que, do ponto de vista mediático, é altamente apelativo”). Há benefícios mútuos para os fazedores de opinião e os media em que comunicam: aqueles com vantagens de índole nobre (a participação na formação da opinião pública) e pragmáticas (reconhecimento público das suas posições); os media porque capitalizam a notoriedade dos Opinion Makers, no que se transforma numa imagem de marca do meio de comunicação social.

Notas: A revista JJ aqui referenciada é o número 17 (Janeiro/Março de 2004). Traz um artigo de Rómulo de Carvalho (O uso da linguagem científica na comunicação social). O meu destaque vai ainda para um artigo de Vanda Ferreira sobre os maiores mercados de jornais.

A editora Livros Horizonte (na colecção CIMJ) editará mais cinco livros até Dezembro:
João Carlos Correia, Comunicação e cidadania. Os media e a dinâmica das identidades na sociedade
João Carlos Correia, Comunicação e sociedade: a fenomenologia de Alfred Schutz
Maria João Silveirinha, A formação das identidades nas democracias liberais. Comunicação e mediações sociais
Maria João Silveirinha (org.), As mulheres e os media
Cristina Ponte, Leitura das notícias. Linhas de análise do discurso jornalístico

DE UM LIVRO DE (E SOBRE) STUART HALL

“O mito de origem dos Estudos Culturais reza que Stuart Hall é seu pai. Foi director do Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS) da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, durante o seu período mais fértil, os anos 70. Na verdade, é um dos pais, pois o mito de origem inclui Richard Hoggart, Raymond Williams e, às vezes, E. P. Thompson nesse papel. Mas foi Stuart Hall quem assumiu os Estudos Culturais como projecto institucional na Open University, e continuou, periodicamente, a se pronunciar sobre os rumos de algo que se tornou um movimento académico-intelectual internacional. […] Quando colocado na posição de grande mestre e exaltado por aquilo que escreveu, Hall desconversa, pois, mais importante do que criar discípulos, é alimentar o debate sobre a temática. Diante de um comentário sobre a importância do seu ensaio «Que ‘negro’ é esse na cultura negra?», reforçou a metáfora antropofágica ao dizer: «Help yourself». Sirva-se. […] Com a preocupação de fazer dialogar uma teorização complexa e sofisticada com as demandas de segmentos sociais, Hall transferiu-se, em 1979, de Birmingham para a Open University, uma instituição de ensino superior na qual adultos obtêm diplomas universitários através de uma combinação de educação a distância e seminários intensivos. […] Nos anos 80 e 90, veio a aceitação dos Estudos Culturais no meio académico britânico e a sua incorporação pela indústria editorial como linha de produção académica e de interesse geral, com boas vendas. Finalmente, Stuart Hall assistiu a um crescente interesse pelos Estudos Culturais fora da Grã-Bretanha, por estudiosos nos mais diversos lugares, principalmente no enorme e rico meio universitário dos Estados Unidos”.

Stuart Hall nasceu em 1932 na Jamaica.

(do texto de introdução de Liv Sovik ao livro Stuart Hall. Da diáspora – identidades e mediações culturais. Organizado por Liv Sovik, e editado em Belo Horizonte e Brasília, pela Editora UFMG e pela Unesco, em 2003. O meu obrigado a Juliana Iorio que me trouxe do Brasil este exemplar que vou ler o mais rapidamente possível)

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