quarta-feira, 19 de maio de 2004

PRÉMIO DE JORNALISMO PARA A PROMOÇÃO DA INTEGRAÇÃO, COMBATE AO RACISMO E OUTRAS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO

Foi feita a entrega de prémios de jornalismo atribuida pelo ACIME (Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas), nas modalidades de imprensa, rádio, televisão e estudos universitários, além de um grande prémio para a área dos media. O júri decidiu não atribuir o prémio de televisão.

O grande prémio foi para o jornalista Paulo Moura (Público), pelas peças noticiosas Missnana, o sonho leve da morte e Um bebé é um passaporte para o céu. Nestes dois trabalhos, Paulo Moura descreve a situação de imigrantes ilegais no norte de África, na região subsaariana, vindos nomeadamente da Nigéria.

O prémio de imprensa (escrita) distinguiu a jornalista da Visão, Alexandra Correia, com uma peça intitulada Rejeitados, sobre a nova lei da imigração e o modo como os imigrantes se adequam a ela. Ao microfone, a jornalista agradeceu - é que se trata do primeiro prémio da sua ainda jovem carreira.

No campo da rádio, o prémio foi entregue à equipa da RDP constituida por Helena Figueiras, Mário Antunes e António Pires, intitulada Nas asas de Sergio Démian - um farol em Portugal. Para mim, que gosto muito de rádio, asseguro que se trata de uma estória comovente, a de um moldavo que chegou a Portugal, apaixonou-se pelo país (e pela música dos Madre de Deus), saiu do país à procura de elementos de legalização e sempre ansioso de regressar. Começou na construção civil mas hoje já é jornalista - o seu velho sonho. A peça dos jornalistas da RDP narra ainda outras estórias de imigrantes de leste no Algarve.

O júri ainda deu uma menção honrosa ao trabalho radiofónico de Manuel Vilas-Boas (TSF), pela peça A cor dos dias, sobre a comunidade cigana.

Dos trabalhos académicos a concurso, seriam premiados ex-aequo duas teses de doutoramento, de Maria Rosa Cabecinhas (Racismo e etnicidade em Portugal) e de Manuel Augusto Abrantes da Costa, professor do ensino básico e animador das comunidades ciganas (Representações sociais da comunidade cigana).

Foi uma excelente noite, proporcionada pela comunidade hindu em Portugal, que acolheu esta cerimónia nas suas instalações. Uma visita ao seu templo, no Lumiar, e um jantar vegetariano típico da Índia proporcionaram uma muito boa impressão.

Como membro do júri (presidente) não deixei de referir publicamente que "a avaliação [dos trabalhos] foi, como compreendem, difícil, mas ela compensou-nos intelectual e civicamente. Com uma referência especial para as peças jornalísticas, dado que os media são, cada vez mais, veiculadores e formadores da opinião pública. E, em época de menor desafogo económico, é fácil apontar o Outro, o estrangeiro, como um dos males da situação. O papel fundamental dos media é informar, mas pode (e deve) exercer a função de formar, anotando os preconceitos e os estereótipos que surgem na opinião pública sobre imigrantes e minorias étnicas. As estórias jornalísticas, ao mostrarem casos de sucesso (alguns) ou de fracasso (mais), alertam os poderes públicos instituídos no sentido de uma melhor formulação de políticas. Muitas dessas estórias operam num registo comovente de esperança. Há peças jornalísticas que são quase hinos à capacidade de sobrevivência de homens e mulheres marcados pelas dificuldades. São peças com nomes, heróis e heroínas anónimos que lutam para conseguir objectivos básicos da condição humana: o emprego, o reagrupar da família, o respeito dos outros – “à procura de uma vida melhor”, como se editou numa das peças jornalísticas".

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