domingo, 13 de junho de 2004

UM ATAQUE INCOMPREENSÍVEL À ANTENA 2

Na edição de 5 de Junho último do jornal Expresso, Joaquim Manuel Magalhães desfere um ataque incompreensível à Antena 2, em artigo designado "Deixei de ouvir a Antena 2". Diz o consagrado poeta que deixou de escutar a estação, porque passam umas "musiquitas" e se usa muito "palavreado". E dá como alternativa a Clássica FM.

No final do seu texto - que ilustra uma enorme e admirável ignorância por parte de quem escreve -, refere que não ouve a frequência de 106,2 Mhz, por morar em local onde não se capta tal estação. Porque, se tivesse hipótese para isso, não teria a opinião que demonstra. A sucessora da "Luna" passa música a granel, sem qualquer critério estético: pode ouvir-se um andamento de uma obra de Bach como ouvir, a seguir, uma "musiquita" de Frank Sinatra ou uma peça de um filme musical qualquer. E não há um qualquer servil locutor a debitar o nome do que se ouve, mas apenas um "despassarado" jornalista (?) a ler apressadamente um noticiário (!), a dez minutos antes da hora, no que parece ser uma manta de takes da Lusa, sem qualquer tratamento.

E Joaquim Manuel Magalhães é tremendamente injusto para com uma série de realizadores ou simples animadores da antena. Penso em António Cartaxo, Vanda de Sá (Ressonâncias, programa feito de parceria com Rui Vieira Nery) e Alexandre Delgado (A propósito de música). E penso ainda nos programas de João Pereira Bastos (Da Broadway a Hollywood), de Manuel Jorge Veloso (Um toque de jazz) - e que pena não haver programa todos os dias à noite, como a congénere Rádio Clássica da Rádio Nacional de España! -, ou de Jorge Rodrigues (Ritornello). Sem esquecer o património de concertos musicais da antiga Emissora Nacional, que Madalena van Zeller nos traz à antena (ainda esta semana deu a conhecer uma portentosa audição da 6ª sinfonia, Patética, de Tchaïkovski). Reconheço que já gostei mais do programa de Judite Lima, em especial no horário de fim-de-semana. Acho que ela está a dar muito espaço ao diálogo com convidados, nem sempre muito relacionados com a música. Mas vejo o esforço em divulgar concertos, em dar voz a músicos jovens.

Do mesmo modo que aqui, neste espaço, me tenho insurgido com a probabilidade de o museu da Rádio vir a perder a sua autonomia, também acho que devo defender o que me parece didáctico e cultural. Espero que a nova RTP reaja a esta injusta e provocadora notícia de um poeta mal informado e o ponha ao corrente do que se produz na estação. É que uma notícia mal escrita, e com dados incorrectos, pode confundir muita gente.

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