ARTIGO DE FILOMENA MÓNICA
Considero de excepcional interesse o artigo de Maria Filomena Mónica, no Público de hoje. O título é expressivo, como se pode ler desta quase metade da página que digitalizei.
É óbvio que a historiadora fala do Zé Maria, mas também de uma Nadia Almada, portuguesa da Madeira que ganhou, este mês, o 5º concurso do Big Brother no Reino Unido! Filomena Mónica é demolidora. Ela escreve: "Há muitas coisas - a arte dentária, a pílula, o Amazon, os antibióticos, os CD - que revelam o progresso ocorrido ao longo das décadas. Os programas de televisão não se encontram entre elas". Descontando o mau feitio e o ar aristocrata que parecem ser as imagens de marca da autora - e a escrita perorativa, ao enunciar: "quero afirmar bem alto que desprezo a televisão do século XXI, vulgar, cínica, banal, vácua, imbecil e indigente" -, Filomena Mónica toca alguns pontos em que estou totalmente em acordo. E que ela escreve bem melhor do que eu.
A portugeezer que ganhou o BB do Reino Unido conseguiu-o porque os tablóides torceram por ela. A autora do texto aqui referido escreve que viu o episódio da vitória da Nadia (Canal 4 inglês), porque se "apercebera de que aquela mulher, com um grande par de mamas, tinha hipóteses de ganhar, o que aconteceu, com a maior percentagem de votos de sempre (74 por cento). No dia seguinte, os tablóides embandeiravam em arco, atribuindo a vitória, que também era sua, à genuidade, sinceridade e prazer de viver da madeirense. Só então me apercebi que se tratava de uma transexual, coisa que os telespectadores sabiam desde o início, mas que os habitantes da «casa» desconheciam".
Mais à frente, e é o que me interessa mais, a polémica articulista escreve: "O Zé Maria e a Nadia têm características semelhantes. Não foram escolhidos por serem bonitos, espertos ou engraçados. Ao contrário, ganharam por serem um pobre diabo e uma aberração da natureza. Há quem diga, para usar o jargão sociológico, que existe um «fenómeno identitário» entre o público do programa e os concorrentes, do tipo aquela é igual à minha filha, o malandro é parecido com o meu filho, a outra, a parva, é semelhante à minha vizinha. Penso que, mais do que tal fenómeno, o êxito do Big Brother deriva da piedade, no que este sentimento pode ter de negativo. Por muito mal que viva, por muito que o destino lhe tenha pregado partidas, o público fica a saber que há, no mundo, seres com vidas piores do que a sua".
Para uma leitura completa aconselho a compra do jornal. Vale a pena!
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