THE CLOCK
Anteontem vi (a) Judy Garland. Muito bonita, ela foi(-me) apresentada por João Bénard da Costa. Era o começo do ciclo Uma viagem a Nova Iorque, na Cinemateca Portuguesa.
No filme The Clock (A hora da saudade, 1945), Judy Garland (1922-1969) contracena com Robert Walker, em filme de Vincente Minnelli (1913-1986). A história é um conto de fadas: um soldado (Joe Allen), com licença de 48 horas, chega a Nova Iorque. Encontra uma rapariga, secretária num escritório (Alice Mayberry), e apaixona-se por ela, acabando por casar.
O filme recria locais paradigmáticos de Nova Iorque, em especial a velha Penn Station, que serve de pano de fundo para a paixão. Não há uma só cena natural da cidade; toda a Nova Iorque que se vê no filme foi reconstruída em estúdio. Há planos lindíssimos - com longos diálogos que servem para os dois se conhecerem melhor - no museu, no jardim zoológico, no metropolitano, no restaurante, no carro do leiteiro, num bar nocturno, em casa do leiteiro, no longo travelling do autocarro, na igreja. Destaco a conversa no museu, na base de uma estátua egipcia, em que Alice (Judy Garland) descalça os sapatos e olha longamente o recém-conhecido. Quando passa um vigilante do museu, descem educadamente da base, mas voltam ao seu local de conversa após aquele se afastar. Um objecto serve de troca e de senha nos encontros e desencontros dos dois: um isqueiro.
João Bénard da Costa chama a atenção para a “assombrosa sequência do casamento” e o desapontamento após uma longa correria. Para o director da Cinemateca, “este filme – seguramente um dos mais belos filmes de todos os tempos”, o primeiro não-musical de Minnelli, assenta no “encontro de dois actores igualmente mágicos”.
Três semanas após a estreia do filme, Judy Garland e Vincente Minnelli casavam-se, união que durou seis anos e de que nasceu uma filha, Lizza. A separação do casal marcava já a lenta decomposição moral e física de Judy Garland, a qual se desligaria da MGM em 1951. Vincente Minnelli, apontado como um modernista queer que criou homens delicados nos seus filmes, escondia a sua identidade homossexual, apesar de casado por quatro vezes. A ligação a Judy Garland valeu a esta ter sido injustamente apropriada pela iconografia homossexual, apesar de ela sempre se mostrar muito feminina [John Fiske (2003). "Understanding popular culture". In Will Brooker e Deborah Jermyn (eds.) The audience studies reader. Londres e Nova Iorque: Routledge].
O ciclo Uma viagem a Nova Iorque, na Cinemateca Portuguesa, prolongar-se-á durante o mês de Setembro, dando ênfase a musicais e à temática Nova Iorque. Das fitas que passam no edifício da rua Barata Salgueiro destaco: Breakfast at Tiffanny's (Boneca de luxo, de 1961), de Blake Edwards, com Audrey Hepburn, The docks of New York, de Josef von Sternberg (de 1928), The godfather (O padrinho, de 1972), de Francis Ford Coppola, com Marlon Brando e Al Pacino, West Side Story (Amor sem barreiras, de 1961), de Robert Wise e Jerome Robbins, com Natalie Wood [sou um fã incondicionável dela], Manhattan, de Woody Allen (de 1979), e dois filmes de Martin Scorcese (Taxi driver, de 1976), com Robert de Niro e Jodie Foster, e New York, New York, de 1977), com Robert de Niro e Lizza Minnelli. Cada sessão do ciclo custa apenas €2,5. Imperdível.
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