domingo, 12 de setembro de 2004

ISTO NÃO É UM CATÁLOGO

Na realidade, são apenas quatro folhas de informação (capa, informações sobre Olga Roriz e a sua companhia, um texto dela sobre a peça e a ficha artística e técnica)roriz.JPG

Para mim, também o bailado Confidencial não é um bailado, excepto na última cenografia. O resto é um cruzamento de artes (indústrias culturais e artes artesanais - ou artes simplesmente). Com recurso a memórias do cinema de animação (o homem borracha), ao music-hall (directa ou indirectamente a Elis Regina, Marlene Dietrich, Astor Piazzolla), à música tradicional (russa), ao circo, à mímica, à performance. E ao teatro, em especial.

Já estou de acordo quando Olga Roriz escreve "não procuro nas palavras mas nas acções, na violência da música, na obsessão de um cenário repetitivo". E entusiasmei-me com a sua inventividade - das cadeiras de bar ou café, aos baldes com flores, às penas de ave (ou era uma matéria sintética?) na parte final do espectáculo e aos jogos coreográficos desenvolvidos pelos cinco bailarinos, a parte mais empolgante de todo o trabalho.

Mas continuei sem ver bailado. Apenas transgressão, como o paraíso ao negro [no título, procurei a referência de Magritte, aqui a obra de Yourcenar], com um casal fazendo amor e um homem defecando. E memórias, que a pequena Sara Cal nos lembrava, tirando continuadamente as suas fotografias Photomaton, num piscar de olhos para que não esquecessemos que estávamos a assistir a uma obra de arte. É isso, a peça de Roriz é arte pela arte, é um olhar estético cheio de volúpia. Sem o poder telúrico do seu Pedro e Inês, de Julho do ano passado, onde os elementos terra e água são fundamentais na coreografia, ela própria uma contaminação de outras artes e em que as tecnologias de informação assumem um peso imprescindível.

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