METODOLOGIAS DE INVESTIGAÇÃO NOS MEDIA
Para David Gauntlett e Anette Hill (TV living, original de 1999, agora reimpresso digitalmente), a metodologia usada no seu trabalho teve como origem longínqua um projecto do BFI (British Film Institute), um inquérito a cerca de 22 mil pessoas em 1 de Novembro de 1988, as quais relataram a sua experiência televisiva desse dia. O mesmo BFI apoiou uma investigação longitudinal entre 1991 e 1996, recolhendo três diários anuais de 509 respondentes iniciais (o número baixou para 427 no final do projecto). Os dados recolhidos nessa pesquisa serviram para o trabalho de Gauntlett e Hill, onde se pode verificar as alterações na vida pessoal de cada diarista (casamentos e divórcios, nascimento de crianças, desemprego, elementos da família saindo de casa, crianças que cresceram e se tornaram adolescentes). Tudo isso significaria alterações no tempo de visão da televisão, gostos e companhias com que se vê os programas. Os diários incluíam perguntas estandardizadas e perguntas abertas. Os diários permitiram, pois, situar a televisão no seu dia a dia: horários de programas e adaptação da vida dos espectadores, significado dos vários períodos de tempo do dia em termos de recepção, interacção à volta do televisor, actividades não relacionadas com a televisão.
O texto de Elizabeth Bird (The audience in everyday life, de 2003) mostra um estudo da autora sobre uma comunidade electrónica e a construção de fãs. A comunidade electrónica era a lista de discussão da série televisiva Dr. Quinn, Medicine Woman, emitida nos Estados Unidos entre 1992 e 1998. A heroína é uma médica, que trabalha por volta dos anos de 1870 numa cidade do interior americano, com os seus valores feministas de pioneira de uma actividade atribuída então aos homens. A lista electrónica retirou o nome da série, DQMW-L. Bird entrou na lista como participante mas mostrou logo o seu interesse académico: analisar a comunidade. Ela foi aceite, podendo fazer comentários como qualquer outro membro da lista. Toda a lista foi, aliás, convidada a ler os drafts do trabalho da investigadora e a fazer críticas. A lista existia desde 1994, tendo o número de membros baixado para 800 após o cancelamento da série, mas, em 2002, ainda mantinha algumas centenas de activistas. Bird descobriu rituais como a recepção aos novos membros, nomeadamente no começo de cada ano, em que havia uma espécie de reapresentação de cada elemento. E realçou a natureza mais literária que oral da lista de discussão, permitindo a reflexão (comunicação assíncrona), ao invés das comunicações de chats, em tempo real (comunicação síncrona).
O terceiro trabalho de metodologias pertence a Joke Hermes (Reading women’s magazines, editado em 1995). A autora parte de uma distinção das revistas femininas em três principais subgéneros – revistas tradicionalmente orientadas, feministas e de rumores. O trabalho empírico de Hermes consistiu em longas entrevistas com leitoras(es), totalizando 80, durando cada uma cerca de 1,5 horas, sob a forma de diálogos. O objectivo das entrevistas com mulheres e homens era reconstruir o modo como as revistas femininas adquiriam sentido. As entrevistas tornaram claro que não é fácil explicar o que torna legível a revista feminina. De particular relevo o capítulo 3, onde Joke Hermes faz o retrato de duas leitoras: a sua mãe e uma amiga, procurando saber o que há de comum e de diferente nas leituras das revistas femininas em duas gerações distintas.
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