GUY DEBORD: SOBRE A SOCIEDADE DE ESPECTÁCULO – I
Guy Debord nasceu em 1931, em Paris, e suicidou-se na sua cidade natal em 1994. Os seus principais trabalhos foram o livro A sociedade do espectáculo, o filme In girum imus nocte et consumimur igni (1978) e o papel que teve na Internacional Letrista (1952-57) e na Internacional Situacionista (1957-72).
Desde os anos 1950, Debord produziu críticas radicais da vida na sociedade moderna, sobre o imperialismo cultural e o papel da mediação nas relações sociais. Devido aos processos de radicalização francesa de Maio de 1968, envolveu-se muito na Internacional Situacionista. A partir de 1952, os seus filmes seriam considerados as primeiras tentativas do uso radical do meio. Mais importante, todavia, foi o conceito da “Construção da Situação” no contexto do significado do discurso artístico. A partir dos anos de 1970, Debord passou a viver em reclusão.
Do livro A sociedade do espectáculo extraem-se os seguintes pontos:
"1 – Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espectáculos. Tudo o que era directamente vivido se esvai na fumaça da representação.
"4 – O espectáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediatizada por imagens.
"11 – Para descrever o espectáculo, a sua formação, as suas funções e as forças que tendem para sua dissolução, é preciso distinguir os seus elementos artificialmente inseparáveis. Ao analisar o espectáculo, fala-se em certa medida a própria linguagem do espectacular, no sentido de que se pisa no terreno metodológico desta sociedade que se exprime no espectáculo. Mas o espectáculo não significa outra coisa senão o sentido da prática total da formação económico-social, o seu emprego do tempo. É o momento histórico que nos contém.
"14 – A sociedade que repousa sobre a indústria moderna não é fortuitamente ou superficialmente espectacular, ela é fundamentalmente espectaculista. No espectáculo, imagem da economia reinante, o fim não é nada, o desenvolvimento é tudo. O espectáculo não quer chegar a outra coisa senão a si próprio.
"44 – O espectáculo é uma permanente guerra do ópio para confundir bem com mercadoria; satisfação com sobrevivência, regulando tudo segundo as suas próprias leis. Se o consumo da sobrevivência é algo que deve crescer sempre, é porque a privação nunca deve ser contida. E se ele não é contido, nem estancado, é porque ele não está para além da privação, é a própria privação enriquecida".
[continua]
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