LIVRO DE JOSÉ PEDRO CASTANHEIRA: NO REINO DO ANONIMATO. ESTUDO SOBRE O JORNALISMO ONLINE
É lançado hoje ao fim da tarde o livro de José Pedro Castanheira No reino do anonimato. O estudo sobre o jornalismo online (206 páginas). Trata-se de mais um companheiro da colecção Comunicação da MinervaCoimbra, dirigida por Mário Mesquita, e que eu tive a alegria de inaugurar a colecção, no já ido ano de 1997.
[imagens da sessão de lançamento, colocadas por volta das 21:40]
De que trata a obra? Trabalho produzido numa pós-graduação de jornalismo no ISCTE (em associação com a ESCS), no ano lectivo 2000-2001, o livro analisa o quarto tipo de jornalismo, o em linha. Nesse sentido, o Expresso Online é parente do jornal impresso, mas de que modo aquele significa este (ou como vão conviver?). Como estudo de caso, o jornalista agora também cientista social escolheu os comentários dos leitores às notícias sobre a Fundação Jorge Álvares no Expresso Online em 2000. Melhor dizendo: “O objecto de estudo foram as diversas peças jornalísticas publicadas em torno do tema, bem como os comentários dos leitores, tal qual foram emitidos no sítio destinado à opinião” (pág. 19).
A Fundação Jorge Álvares foi constituída no final de 1999 e o seu objectivo era o de prolongar e estreitar a cooperação entre Portugal e a China, numa altura em que o poder em Macau começava a transitar do primeiro para o segundo daqueles países. A notícia geraria grande polémica, dado o sigilo e o facto de a sede ser Lisboa, bem como a forma de financiamento através de receitas do jogo.
José Pedro Castanheira fez dois inquéritos para este trabalho agora editado: um sobre os leitores que se identificaram, outro junto dos jornalistas e colaboradores que escreveram sobre a fundação.
A necessidade de continuar a haver jornalistas e mediadores da informação
De então para cá, o mundo do em linha alterou muito. Surgiram os blogues, os jornais criaram media que migraram para o digital (jornais online), introduziram-se filtros para palavras ou expressões, registos prévios e acesso pago (o Expresso foi o primeiro jornal nacional a introduzir esta última modalidade), constatou-se a necessidade de autentificar os comentários e as mensagens oriundas de um universo muitas vezes anónimo (e com óbvios interesses em se esconder sob essa capa).
O livro chama a atenção para o recurso comum “a fontes vagas e genéricas, sem qualquer elementos de identificação” (p. 163) empregue no jornalismo em linha, razão para a pouca credibilidade deste meio de informação. Ou o que José Pedro Castanheira chama também de jornalismo de rumores (p. 177). Assim sendo, pergunta o jornalista: está a acabar o profissional que procura a informação, a trata, usa o princípio do contraditório entre fontes com versões diferentes sobre um tema e analisa e interpreta os acontecimentos? Na internet, coexistem jornalismo, parajornalismo e pseudojornalismo (p. 175, a partir de uma citação de Andie Tucher).
Parece que o jornalista receia mesmo que acabe o jornalismo de investigação tal como o conhecemos. Sem eu reflectir muito nesta sua visão, porque a leitura que fiz do livro ainda foi muito diagonal, lembro as páginas iniciais de Michael Schudson em The power of news (1995: 1-2): imaginem um mundo em que toda a gente – do presidente da República ao patrão do maior conglomerado, de um candidato a qualquer coisa até a um movimento social – enviava informação para qualquer cidadão. A informação do presidente teria mais credibilidade que a do simples cidadão; logo, a sua versão esmagava a dos outros. Mas: haveria tempo para digerir toda a informação? E qual, afinal, a mais importante? Ou relevante? Ou interessante? As pessoas precisam que haja quem ajude a interpretar e explicar os acontecimentos. Não será – adapto aqui o texto de Schudson – o motor de pesquisa Google, que nos dá indicação do texto mais visitado, como sendo o mais importante. O que precisamos é de “intérpretes, repórteres, editores” (Schudson).
Lançamento: hoje, pelas 18:30, no piso 7 do El Corte Inglés, aqui em Lisboa, com apresentação de José Pacheco Pereira.
Adenda (escrita por volta das 12:10) - os jornais Público e Diário de Notícias dedicam, cada um, uma página inteira ao autor e ao livro. É uma boa (e justa, quanto a mim) promoção!
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