DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Na edição de hoje, surge já a nova direcção do jornal: Miguel Coutinho (director), Raul Vaz (director-adjunto) e António Perez Metelo, João Morgado Fernandes e Pedro Rolo Duarte (subdirectores). Como um dos jornais que leio regularmente, os meus desejos de sucesso à nova equipa.
Aliás, a edição tem muitos motivos de interesse. A começar pelo olhar interno ao jornal. Primeiro na página 8, com o título Editorial. Nele, escreve a direcção estar pronta a assumir o "compromisso com os leitores - o de preservar a independência da informação, com respeito integral pelos princípios éticos da Imprensa" e o de assegurar a feitura diária de "um jornal moderno, que esteja atento às tendências da sociedade, tão informativo quanto analítico, sendo capaz de reflectir sobre as notícias". A página é acompanhada da publicação do estatuto editorial do jornal, saído a primeira vez em 19 de Outubro de 1992, então uma marca da modernidade do Diário de Notícias (reprivatizado, em novo formato tablóide, com uma equipa dirigente e editorial nova, respondendo aos desafios colocados na imprensa de referência após o lançamento do Público em 1990).
Depois, a página 44 dedicada à transição de poderes da direcção interina cessante para a actual direcção, exercício importante para os estudiosos dos media - em que me incluo - mas desnecessário para o leitor em si. Uma página sobre a nossa vida privada (decisões, comentários) num espaço público soa a vaidade pessoal. Contudo, retiro o objectivo principal da página: avisar a concorrência de que o "novo" DN se prepara para conquistar a liderança no seu mercado. À atenção do Público, pois.
Colunistas, colunas e uma fotografia
Saúdo a inclusão de uma nova coluna de Vicente Jorge Silva, no espaço deixado vago por Vasco Pulido Valente (agora no Público). Gosto mais daquele do que deste, muito pessimista e demolidor para com tudo e com todo. Lendo-o parece que só resta o suicídio colectivo.
Sobre as colunas de hoje, gostei do texto de Vasco da Graça Moura. Numa narrativa de suspense o seu outro grito (para além do artigo de Cavaco Silva este fim-de-semana no Expresso e que teve fortes implicações políticas) é o de saber que "as criancinhas das escolas levam muitos deveres para casa"! E também gostei de ler a coluna de Miguel Gaspar, que se afirma como um crítico de televisão ao nível do melhor que eu tenho lido (como Eduardo Cintra Torres, por exemplo). Sobre a Quinta das celebridades quase que valia a pena reproduzir o texto todo, pela coerência argumentativa ali exposta.
Mas o que mais me chamou a atenção no Diário de Notícias de hoje é uma fotografia, de Luís Carregã, ilustrando um texto sobre Canas de Senhorim e a questão do transporte de urânio. Se Roland Barthes fosse vivo e visse a imagem, teceria dela comentários ricos. Eu vou tentar ser o seu aprendiz.
O que se vê na fotografia? Um conjunto de mulheres já idosas numa manifestação. Todas elas activas, pois se vêem as suas bocas abertas, certamente a gritarem uma frase de ordem da manifestação. Das três mulheres em primeiro plano, a da direita está mais protegida contra o tempo: calças e sapatos de inverno [as outras estãoainda presas às convenções sociais, com uso obrigatório de saia]. A do meio, mais estilo avozinha, de mala no braço esquerdo, grita e faz do guarda-chuva uma bandeira. Já a da esquerda, de negro, talvez viúva, mostra a boca com um só dente. A dona de casa que se avizinha num segundo plano leva uma bandeira, talvez a desenhada para o futuro concelho de Canas. Praticamente só se vêem mulheres. À esquerda vê-se também um idoso, de boné, transportando um cartaz. No fundo da imagem notam-se umas instalações fabris - há assim um ambiente misto de ruralidade e industrialização. O chão onde as manifestantes caminham parece ser asfalto - é uma estrada.
O que leva gente possivelmente pacífica todos os dias, com deveres domésticos regulares, a manifestar-se em Canas? Onde estão os jovens? E os líderes da manifestação? Talvez a resposta esteja no texto, em que o líder do movimento de Canas a concelho serenou os ânimos dos presentes. Parece ter perdido o controlo do movimento que, com alguma assiduidade, se desloca à Assembleia da República.
Mas a razão central - e eu não tenho elementos suficientes para mostrar - deve residir apenas na presença da comunicação social, fotógrafos e câmaras de televisão. As donas de casa e outros manifestantes de vida normal calma e pacífica ficam excitados com quem capta imagens. Sempre podem aparecer num noticiário de televisão perto do horário da Quinta das celebridades.
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