segunda-feira, 14 de março de 2005

CRISTINA PONTE - UMA PRODUÇÃO CIENTÍFICA COERENTE

ponte5.jpgSaíu agora o seu último livro, Crianças em notícia. A construção da infância pelo discurso jornalístico 1970-2000, editado na prestigiada colecção "Imprensa de Ciências Sociais", do Instituto de Ciências Sociais.

Professora no departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa, Cristina Ponte analisa, no texto agora publicado, o "tratamento jornalístico de crianças e infância" através do modo como um jornal de referência, o Diário de Notícias, trabalha esse universo. Depois de olhar a forma como se tem feito a construção social da criança, a autora aborda o tratamento feito no jornal e detecta várias agendas nesse tratamento. Desde a "cobertura do acidente doméstico como fatalidade, que marca o jornal de 1970, como contraponto a todos os silêncios sobre o social, passamos para a «criança beneficiária» da iniciativa de organizações políticas e associativas, em 1975. [...] É nos anos 80 que os cuidados primários de saúde e assistência surgem com destaque" (p. 16).

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Resultado da tese de doutoramento de Ponte defendida em 2002, ela tem um prolongamento no livro saído o ano passado, com o título Leitura das notícias (Livros Horizonte) e Televisão para crianças - o direito à diferença (Escola Superior de Educação João de Deus, 1998), produto da sua tese de mestrado defendida em 1994.

Outras problemáticas seriam, entretanto, trabalhadas pela autora, como o discurso jornalístico na cobertura da toxicodependência (capítulo no livro colectivo de Traquina, Cabrera, Ponte e Santos, O jornalismo português em análise de casos, Caminho, 2001) e da sida (Notícias e silêncios. A cobertura da sida no Diário de Notícias e no Correio da Manhã, Porto Editora, 2004).

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Da autora retiro a seguinte proposta que, embora escrita na introdução do livro de grupo O jornalismo português em análise de casos, tem a sua marca: "São estudos de «jornal na mão», que variam nas suas formas de análise: alguns adoptam contributos de linhas de investigação baseadas em inquéritos ou na análise quantitativa de conteúdo, outros fazem incursões pela análise da linguagem jornalística enquanto discurso social e enquanto produtor de estórias e de propostas de leituras do mundo, outros ainda entram nas salas de redacção, em observação participante das teias de relações entre jornalistas e entre estes e as fontes" (p. 12).

Observação: Além dos trabalhos publicados, Cristina Ponte tem tido um trabalho meritório como co-directora da revista Media & Jornalismo, do CIMJ, e tradutora e revisora científica de edições (Denis McQuail, Teorias da comunicação de massas, Gulbenkian, 2003), além do trabalho menos visível de orientação de teses de mestrado e de doutoramento. Sem falsas modéstias, a Cristina Ponte pertenceu a uma turma de mestrado (2000-2002) que terá sido das melhores da Universidade Nova de Lisboa. Dela fizeram parte também Rogério Ferreira de Andrade (ex-director do curso de Comunicação Organizacional da Universidade Lusófona), António Pinto Ribeiro (anterior programador responsável pela Culturgest), Maria João Silveirinha (professora da Universidade de Coimbra e autora ou organizadora de dois livros publicados muito recentemente), Ana Cabrera (professora do ensino secundário, co-autora do livro de Traquina e colegas acima referenciado e preparando-se para defender tese de doutoramento sobre a imprensa no tempo de Marcello Caetano) e Jacinto Godinho (jornalista da RTP e docente na Universidade Nova de Lisboa, a semanas de defender tese de doutoramento).

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