
Professora no departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa, Cristina Ponte analisa, no texto agora publicado, o "tratamento jornalístico de crianças e infância" através do modo como um jornal de referência, o Diário de Notícias, trabalha esse universo. Depois de olhar a forma como se tem feito a construção social da criança, a autora aborda o tratamento feito no jornal e detecta várias agendas nesse tratamento. Desde a "cobertura do acidente doméstico como fatalidade, que marca o jornal de 1970, como contraponto a todos os silêncios sobre o social, passamos para a «criança beneficiária» da iniciativa de organizações políticas e associativas, em 1975. [...] É nos anos 80 que os cuidados primários de saúde e assistência surgem com destaque" (p. 16).


Resultado da tese de doutoramento de Ponte defendida em 2002, ela tem um prolongamento no livro saído o ano passado, com o título Leitura das notícias (Livros Horizonte) e Televisão para crianças - o direito à diferença (Escola Superior de Educação João de Deus, 1998), produto da sua tese de mestrado defendida em 1994.
Outras problemáticas seriam, entretanto, trabalhadas pela autora, como o discurso jornalístico na cobertura da toxicodependência (capítulo no livro colectivo de Traquina, Cabrera, Ponte e Santos, O jornalismo português em análise de casos, Caminho, 2001) e da sida (Notícias e silêncios. A cobertura da sida no Diário de Notícias e no Correio da Manhã, Porto Editora, 2004).


Da autora retiro a seguinte proposta que, embora escrita na introdução do livro de grupo O jornalismo português em análise de casos, tem a sua marca: "São estudos de «jornal na mão», que variam nas suas formas de análise: alguns adoptam contributos de linhas de investigação baseadas em inquéritos ou na análise quantitativa de conteúdo, outros fazem incursões pela análise da linguagem jornalística enquanto discurso social e enquanto produtor de estórias e de propostas de leituras do mundo, outros ainda entram nas salas de redacção, em observação participante das teias de relações entre jornalistas e entre estes e as fontes" (p. 12).
Observação: Além dos trabalhos publicados, Cristina Ponte tem tido um trabalho meritório como co-directora da revista Media & Jornalismo, do CIMJ, e tradutora e revisora científica de edições (Denis McQuail, Teorias da comunicação de massas, Gulbenkian, 2003), além do trabalho menos visível de orientação de teses de mestrado e de doutoramento. Sem falsas modéstias, a Cristina Ponte pertenceu a uma turma de mestrado (2000-2002) que terá sido das melhores da Universidade Nova de Lisboa. Dela fizeram parte também Rogério Ferreira de Andrade (ex-director do curso de Comunicação Organizacional da Universidade Lusófona), António Pinto Ribeiro (anterior programador responsável pela Culturgest), Maria João Silveirinha (professora da Universidade de Coimbra e autora ou organizadora de dois livros publicados muito recentemente), Ana Cabrera (professora do ensino secundário, co-autora do livro de Traquina e colegas acima referenciado e preparando-se para defender tese de doutoramento sobre a imprensa no tempo de Marcello Caetano) e Jacinto Godinho (jornalista da RTP e docente na Universidade Nova de Lisboa, a semanas de defender tese de doutoramento).
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