GOODBYE DRAGON INN
É a última sessão num velho cinema de Taiwan. O jovem que entra encontra a sala quase vazia. Mas, por vezes, vêem-se pessoas (ou serão fantasmas?): um jovem casal que come algo ruidosamente, uma rapariga que tira os sapatos, espectadores que fumam, alguns velhos, uma criança. Elas mudam de sítio ou deambulam pelo edifício do cinema. A história anda também à volta de dois empregados do cinema, a arrumadora e o projeccionista. Ela aproxima-se da cabina de projecção, mas não o encontra, como sempre. Deixa-lhe parte da sua refeição, após o que deambula pelo edifício labiríntico do cinema. No ecrã, passa um filme realizado 36 anos antes, Dragon Inn, cuja acção lembra o kung-fu e os filmes de artes guerreiras antigas no Oriente [imagens retiradas do sítio WELLSPRING].
Nascido na Malásia, o realizador do filme, Tsai Ming-Liang, instalou-se em Taiwan no ano de 1977. Em 1981, concluia um grau universitário de arte dramática na Universidade de Cultura Chinesa. Tornou-se autor de teatro e trabalhou para a televisão (telefilmes).
Os trabalhos deste mestre de geometria, como lhe chamou A. O. Scott, o crítico de cinema do New York Times, andam à volta da sociedade actual, da solidão e dos estilos de vida urbana frenética. Mas a mim parece-me mais do que isso.Tsai Ming-Liang usa igualmente a harmonia nos enquadramentos, as sombras das personagens projectadas no chão, o som da queda dos pingos da água dentro de baldes, o andar da arrumadora, que coxeia, em especial quando ela sobre uma escada metálica, produzindo sons diferentes consoante o pé. Os diálogos são raríssimos e não têm uma sequência na acção - a palavra é menos importante que a imagem (quase sempre com câmara parada, em posição semelhante à de um espectador numa sala) e o som dos movimentos das personagens, mostrando a alienação e o tédio da vida urbana.
Há uma homenagem aos actores e actrizes que caem no esquecimento e aos cinemas que morrem. O espectador que chora é Tien Miao, actor do filme em exibição dentro do filme, Dragon Inn. Na minha história pessoal, lembro-me de desaparecerem salas onde formei e apurei o meu conhecimento cinematográfico, como o Trindade, no Porto, e o Mundial, em Lisboa.
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