CULTURA E MERCADO
É um texto que ocupa duas páginas do El Pais de hoje, assinado por Andrea Rizzi. Tema: o circo das promoções e dos lançamentos, o que pode provocar uma intromissão excessiva na actividade de criação e informação cultural. Não foram Theodor Wiesengrund Adorno ou Max Horkheimer que escreveram a peça, mas quase poderíamos reflectir a partir da perspectiva deles.
Na imagem, vê-se a cantora americana Mariah Carey, durante a promoção do seu novo disco The emancipation of Mimi (em Espanha será lançado depois de amanhã). Em avião privado, ela está a percorrer o mundo acompanhada de 17 colaboradores, entre chefe de imprensa, maquilhadora, cabeleireira, especialista em vestuário, conselheiros de luz e decoração para estúdios de televisão. Nos próximos dias, terá doze horas de trabalho, repartidos entre entrevistas, sessões fotográficas, actuações em playback e festas, pedindo-se-lhe um constante sorriso. Atrás dela estão 150 milhões de cópias vendidas em nove álbus anteriores e muito dinheiro injectado na promoção pela Sony.
A batalha da Sony e de Mariah Carrey não difere das realizadas pelas grandes produtoras, casas editoriais e empresas cinematográficas em apoio das suas estrelas. Por exemplo, um autor como Umberto Eco recebe 15 pedidos diários para entrevistas após fazer sair um romance. Se ele - ou a editora Bompiani - aceita todas ou quase todas as solicitações, a verdade é que as respostas parecer-se-ão todas, sendo que ele não esteve num sítio a falar isolado com o jornalista mas através de email ou a perguntas previamente formuladas (respondendo ou não a estas). O que importa é publicar algo sobre o grande homem.
O lançamento de um filme é semelhante. Em Hollywood, a máquina publicitária começa no início da rodagem e acaba com duas voltas através de dezenas de cidades - uma nos Estados Unidos e outra para o resto do mundo. A volta diária de um actor é: conferência de imprensa, sessão de fotografias, festa, sem possibilidades de tomar um café extra, e avião rumo a outra cidade e repetição do anterior dia. Isso pode durar mês e meio, com uma equipa de perto de 20 pessoas, que incluem familiares do artista.
Tal cultura de lançamentos e promoções também se reflecte no trabalho do jornalista, que se obriga a ver uma projecção do filme ou a assistir à conferência de imprensa ou aos chamados junketts (grupos de seis a oito jornalistas que têm apenas vinte minutos por grupo para conseguir alguma coisa do entrevistado). São as regras do jogo de um mercado cada vez mais poderoso em que se aproveitam fórmulas distintas, escreve a jornalista do El Pais, que, um dia, viu a actriz a amamentar o filho enquanto participava na entrevista.
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