domingo, 3 de abril de 2005

A MORTE DO PAPA

O mundo chora a morte de João Paulo II, figura fundamental na vida religiosa dos últimos 26 anos. Durante o período em que ele foi Papa, houve profundas transformações no mundo: a queda do muro de Berlim, o desmoronamento do império soviético, a guerra nos Balcãs, tudo aqui na Europa ou perto dela. Mas também as guerras no Iraque, o Afeganistão, o 11 de Setembro de 2001 (ataque às torres de Nova Iorque) e o 11 de Março de 2004 (atentados de Madrid). Em que a abertura aos problemas do mundo e dos países e às outras confissões religiosas foram marcas definitivas do Papa polaco.

João Paulo II viveu ainda num tempo dos media, que seguiram a sua peregrinação ao longo do papado. A televisão comercial (na Europa), o telemóvel, a internet são contemporâneos da sua permanência no Vaticano. Daí que este post reflicta um pouco essa ligação entre a vida de um Papa de personalidade fortíssima e os media novos que nasceram e cresceram nos 25 anos [imagens retiradas do noticiário da RTP das 20:00 de hoje].

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Nestes dias, os da sua lenta agonia e anúncio da morte, as televisões - mais do que os outros media - prepararam dispositivos de transmissão ímpares (ao nível dos da última guerra do Iraque) com enviados especiais, directos frequentes, alteração radical da programação, com mesas redondas ou recolha de testemunhos de pessoas ligadas à Igreja Católica. Em Portugal, os canais generalistas e de sinal aberto tornaram-se aparentados ao canal noticioso por cabo.

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Para além de muitos pormenores da vida do Papa, das suas missões pelo mundo, incluindo Portugal (e Fátima), as televisões passaram cenas de Roma e da Polónia, país natal de João Paulo II. Orações e cerimónias religiosas eram intervaladas com manifestações de pesar (lágrimas) mas também de esperança (cânticos) de crentes vindos a Roma de vários pontos da Europa. O dispositivo televisivo misturava fontes oficiais (cardeais e padres, em cerimónias religiosas ou em estúdio; jornalistas) com vozes anónimas, as quais davam o colorido da espontaneidade - da imagem que importa na televisão. E mesmo o encadeado de jornalistas, a partir de um pivot localizado fora do estúdio, completava esse dispositivo televisivo, como se observa na terceira imagem que incluo no post.

Também os jornais de hoje, nomeadamente os de qualidade, incluiram capas com a fotografia do Papa e cadernos especiais sobre a vida dele e a sua obra na Igreja.

Observação: esta semana, estive a ler, para uma investigação em curso, o Século Ilustrado do primeiro semestre de 1939, apanhando a transição do Papa Pio XI para Pio XII (num período doloroso para a Europa, quando a guerra civil de Espanha estava a acabar e o começo da II Guerra Mundial se precipitava para breve). Na publicação, nota-se uma prestação piedosa relativamente ao Papa desaparecido e uma referência elogiosa e de esperança face ao seguinte, mas há igualmente uma discrição quanto aos pormenores da doença e desaparecimento de Pio XI. O que não se observa de todo neste momento, em que a concorrência dos media é grande e os canais de televisão precisam de ter as melhores imagens para ilustrar as notícias.

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