segunda-feira, 4 de abril de 2005

RÉMY RIEFFEL

Uma das obras mais sérias que li ultimamente sobre sociologia dos media é a de Rémy Rieffel.

remyrieffel.jpgComecei por ler os capítulos dedicados à cultura e às indústrias culturais (4º) e audiências e públicos (6º), matérias que dei recentemente na universidade. Mas obriguei-me a ler o conjunto do livro. Os outros capítulos do livro versam matérias tão importantes como política e opinião pública, propaganda e publicidade, os jornalistas e as tecnologias de informação e comunicação.

Concentrando-me agora no capítulo sobre cultura e indústrias culturais, o percurso seguido por Rieffel é semelhante ao meu (ou vice-versa), começando por referir Adorno e Horkheimer na sua Dialéctica da razão (pp. 90-91), a preferência do plural indústrias culturais pelo autor francês, a influência dos sociólogos do seu país, caso de Patrice Flichy, quando ele divide as indústrias culturais em dois modelos: 1) editorial, como o livro, o disco ou o filme, e 2) onda (eu traduziria por fluxo), caso do jornal ou da programação de televisão, que se produz regularmente (p. 93). Destaca ainda a concentração e a globalização empresarial e de produtos e releva a importância da recepção, nomeadamente os estudos culturais da Universidade de Birmingham, a partir dos trabalhos de Stuart (Rieffel nomeia Richard Hoggart).

Saltando para o 6º capítulo, Rémy Rieffel - que é professor do Institut Français de Presse (Universidade de Paris II), onde ensina especialmente sociologia dos media e teorias da comunicação - faz uma distinção muito precisa entre audiência e público em termos de estudos [imagem do autor retirada do sítio Institut Français de Presse]. Assim, os estudos de audiência "baseiam-se em inquéritos estatísticos que visam delimitar a população dos leitores" (p. 164) e incidem sobre "a sua estrutura, a sua extensão e, eventualmente, os seus juízos e apreciações". Quanto aos estudos do público visam "compreender os meandros do comportamento do receptor, revelar as suas motivações e apreender os universos de significações, as formas de participação ou de resistência que os media desencadeiam". O capítulo tem dados muitos interessantes sobre a aplicação prática destes estudos quantitativos (audiências) e qualitativos (públicos).

Aconselho muito a leitura do trabalho agora lançado pela Porto Editora, embora a bibliografia seja principalmente francesa e o livro um texto de divulgação e de caracterização de correntes e conceitos e não um projecto de investigação empírica puro.

Observação para os editores e gestores da colecção: na ficha técnica, o livro traz, a seguir ao nome da editora, a data de 2003. Mais abaixo surge a data de Novembro de 2004. Na realidade, o livro conheceu divulgação no começo deste ano. Há aqui um problema de marketing, a evitar em próximas publicações. A data de 2003 deveria eliminar-se, pois é o mais incorrecto possível. Mesmo a referência a 2004 torna o livro obsoleto. A tradição anglo-americana faz com que um livro publicado em Setembro de um ano leve a marca do ano seguinte. Assim, um livro editado num ano tem 15 a 16 meses de actualidade em termos de ano de edição.