domingo, 26 de junho de 2005

LEITURAS DE JORNAIS

1) Sida extinta

Eis um título o mais errado possível de uma breve publicada ontem no Expresso, na página 32. Um Governo não decreta a extinção de uma doença. Pode declarar o fim de uma comissão de acompanhamento da doença, que foi o caso. O título foi assim construído porque o texto se inseriu na coluna de Últimas, sem espaço para mais.

Não posso comentar a pertinência da extinção da Comissão Nacional de Luta Contra a Sida (CNLCS), por não ter elementos avaliativos da justeza da medida, exactamente na semana em que a estrutura (embora com outro nome) comemorava vinte anos de trabalho. Mas, se o Governo tiver razão, significa uma de duas coisas: 1) a doença está controlada e não justifica um departamento especial para o seu acompanhamento, com integração adequada num alto-comissário para a saúde, onde se envolvam doenças igualmente mortais como sida, cardiovasculares e oncologia, 2) a estrutura estava burocratizada e não produzia trabalho concreto.

Recordo somente a génese da estrutura ligada à sida. Ela arrancou em 20 de Junho de 1985, após notificação das primeiras mortes no ano anterior. A designação inicial foi Grupo de Trabalho da Sida e contou com a liderança de Laura Ayres. Mais tarde, a designação mudou para CNLCS, em Abril de 1990, mantendo a mesma responsável. Após a sua morte, por doença cardiovascular, em Janeiro de 1992, o lugar foi preenchido por Machado Caetano e Odete Ferreira, esta no final do mesmo ano de 1992. Durante cerca de dez anos, foi Odete Ferreira a imagem da CNLCS. Uma mudança governamental operou a sua substituição, num momento em que a sida deixava as primeiras páginas dos jornais como elemento de terror e descontrolo sanitário.

Espero regressar com este tema lá para o Outono, explicando o modo como a imprensa tratou a doença ao longo de cerca de quinze anos.

2) Televisão no celular

Segundo Andrew Murray-Watson, do Sunday Telegraph de hoje, a televisão no telefone móvel será uma realidade em breve. Comenta ele, se cada britânico consome à volta de 18 horas semanais em televisão, por que não introduzir uma televisão móvel?

Todos os principais operadores de celulares estão a ultimar as suas ofertas. Esta semana coube a vez à Virgin Mobile, em parceria com a British Telecom, apresentar um serviço que permite aos seus clientes terem um telemóvel com televisão. As experiências ainda decorrem com um pequeno número de clientes em torno da autoestrada M25. O serviço comercial será lançado em 2006 se a prova piloto tiver sucesso. Há, neste momento, oferta de três canais - Sky News, Sky Sports News e uma estação de música, a Blaze. O Sunday Telegraph experimentou a tecnologia e concluiu que ela funciona. Trata-se do DAB. Dia sim dia não ou mês sim mês não, escreve-se que o DAB não serve, que está ultrapassado. No Natal passado, foi o sucesso de vendas de receptores de rádio em DAB; agora, a promessa de televisão no telemóvel através de DAB.

Entretanto, a concorrência experimenta outras tecnologias. A Orange usará a rede 3G (terceira geração de celulares). Contudo, a resolução de imagem não é tão boa como a do DAB, embora seja pioneira, pois já oferece comercialmente o serviço a £10 mensais (grosso modo: €15 mensais), que inclui o Big Brother e um canal de corridas de cavalos, aos escassos clientes que aderiram. Uma terceira tecnologia espreita e dá pelo nome de DVB-H (digital video broadcast-handheld), em desenvolvimento pela O2 em Oxford. Um analista terá dito que o DVB-H será o VHS do Betamax do DAB (traduzido por miudos: o Betamax era um sistema de gravação vídeo de melhor qualidade que o VHS, mas este acabou por triunfar graças ao marketing das empresas que o comercializaram; o mesmo poderá acontecer com o DAB, ultrapassado pelo DVB-H).

Aguardam-se desenvolvimentos tecnológicos. Duas coisas são, porém, certas: 1) o DAB não é para desprezar; 2) a televisão não vai morrer por causa da internet, pois canais temáticos e a pagamento estão a encontrar outras formas de distribuição.

3) RSS (Really Simple Syndication) ou como criar o seu próprio jornal

No mesmo Sunday Telegraph de hoje, Guy Dennis fala-nos do RSS (Really Simple Syndication) - o modo como as notícias estão a ser distribuidas na internet e as grandes implicações que isso terá na forma dos grupos mediáticos fazerem dinheiro. Trata-se de um software que organiza as notícias de acordo com o interesse do consumidor da internet, agregando-as de uma determinada maneira. A escolha determina, digamos, notícias vencedoras e notícias perdedoras. Por isso, há uns que são entusiastas e outros que nem por isso. Aliás, RSS tanto pode querer significar Really Simple Syndication como Rich Site Summary!

Muitas organizações noticiosas têm oferecido dois serviços em conjunto: o conteúdo de uma história nelas produzidas e a agregação e selecção de outras geradas por agências noticiosas. O RSS pode alterar o conceito e permitir aos leitores escolherem o que querem receber em termos de matérias. Haverá ainda alterações quanto ao design de páginas web e na publicidade. A grande esperança é que o RSS chame a atenção de audiências para um história específica e, a partir daí, para outras partes do sítio, o que pode rentabilizar os investimentos publicitários.

A primeira vez que eu li sobre RSS foi no blogue Intermezzo, de Daniela Bertocchi, o que ilustra a vanguarda da sua responsável.

4) A escola da Bauhaus em exposição em Barcelona

Não resisto a reproduzir esta página da revista do El Pais de hoje [conto com a benevolência do editor do jornal em não me cobrar direitos de autor, pois se trata de uma página magnífica, como a que é publicada na página seguinte da revista, uma aguarela de Vasili Kandinski para o director da Bauhaus, o arquitecto Walter Gropius].

A Bauhaus foi a mais influente escola artística alemã entre 1919 e 1933, quando o nazismo a fechou. Agora a exposição em Barcelona (sala Caixaforum) mostra a vida e as festas organizadas por professores da escola, como Mies van der Rohe, Gropius, Kandinski, Paul Klee. Para quem viajar até à Catalunha, a não perder. Eu fico-me com o texto de Ignacio Vidal-Folch.

[post acabado às 20:54]

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