AINDA SOBRE JORNALISMO DIGITAL E OUTRAS MATÉRIAS (II)
Em 9 de Junho último, sob a influência da importante discussão havida em Braga em torno do jornalismo digital, escrevi um post, remetendo a sua continuação para depois. Eis que o faço agora (com a promessa de continuar a escrever sobre o tema em mais oportunidades).
A internet teve influências a nível da publicidade e da informação, por exemplo. As múltiplas janelas dos noticiários de televisão constituem uma prova. A ideia de ocupação do ecrã modificou-se; mas isso já ocorrera com os touch screen - a relação de interactividade ou de múltipla escolha da informação. Há a ideia da prótese mão-teclado, olhar-ecrã, à McLuhan. A informação passou a ser muito mais rápida (em competição com a rádio), buscando a instantaneidade.
Conforme escrevi nesse outro post, detectam-se consumos culturais distintos em termos geracionais: os mais velhos e cultos lêem jornais, os mais velhos e com menores recursos educacionais vêem televisão, embora esta seja transversal do ponto de vista de recursos educacionais. Já os jovens usam internet, telemóvel, iPod e MP3 - uma cultura mais visual e táctil. Contudo, as tecnologias não valem por si sós, mas dependem dos usos sociais, geracionais e, até, estéticos, que podem ir à modulação (combinação de media digitais, como o SMS e o MSN Messenger) ou à combinação de media analógicos e digitais (caso da televisão, que tem produção digital e distribuição analógica). A tecnologia transporta em si uma rápida obsolescência e uma permanente formação de conhecimento.
Ideias em discussão
A realidade mais recente deu-nos a conhecer novo vocabulário, como canibalização (empresas e/ou produtos, significando que, dentro de um mesmo grupo empresarial ou empresa, há equipas concorrendo com os mesmos produtos e buscando as melhores soluções), deslocalização (ida de centros de produção e distribuição - e conhecimento - para outros lugares) e clusters (formação de empresas em cacho ou interdependentes na cadeia de valor).
Isso conduz-me à perspectiva anteriormente colocada sobre a "revolução" da internet. Há um sentido apologético excessivo sobre a importância da internet. Para mim, muito mais importante que a internet foi a descoberta do alfabeto na Grécia, como Eric A. Havelock tão bem descreve (A musa aprende a escrever, Gradiva, 1996). Isto é, há uma longa e interactiva penetração da oralidade na escrita gráfica, de modo a não se poder falar de revolução apenas mas de intercâmbio e de riqueza das formas de comunicação. A internet vai combinar o ecrã com a escrita - que se mantém preponderante.
Por outro lado, é visível que um grupo "dominante" procure tornar a sua ideia também dominante na sociedade em que se indere. Quem escreve sobre internet, esquece-se do surgimento e evolução dos outros media. Primeiro, a rádio e, depois, a televisão trouxeram promessas de felicidade e de harmonia, que não aconteceram. Um exemplo, a maior literacia. Podemos dizer hoje que o fosso digital - provocado por más condições económicas e políticas, entre outras - inibe parcelas grandes do planeta de aceder à comunicação electrónica interactiva, a internet. Do mesmo modo, a abundância [há uma palavra mais bonita, mas mais complexa, para a explicar: cornucópia] de informação e de máquinas de obter informação não significam mais, melhor e mais equitativamente distribuída informação e conhecimento.
Isto não nega o enorme mérito da internet no actual panorama dos media (eu sou utilizdor assíduo do meio). Mas convém reflectir na evolução e transformação que cada meio transportou para a sociedade, ou que esta fez reflectir sobre o meio. Por exemplo, o caso dos jornais impressos. No começo do século XX, ainda não havia a ideia de jornalista ou de redacção como hoje a entendemos. Há cem anos, poucos eram os profissionais dos jornais que destes viviam, pois as organizações jornalísticas ainda não tinham a componente comercial que lentamente se foi erguendo. Não havia concorrência entre títulos para uma maior venda ou obtenção de lucros, objectivos que se desenvolveram ao longo do século passado.
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