PROMS E OUTROS ESPECTÁCULOS
Nunca assistira a um concerto dos Proms [Promenades] da BBC, em Londres. Vi/ouvi, de Hector Berlioz, o Romeu e Julieta, uma sinfonia dramática a partir da peça de Shakespeare, cantada em francês. A sala, o Royal Albert Hall, tem uma forma circular, no meio da qual existe uma arena, espaço em que o público assiste de pé (a primeira vez que me apercebi da localização de um espaço central sem cadeiras num teatro foi ao ver o filme Cyrano de Bergerac, onde a história mais importante não era a representada no palco mas entre a multidão que assistia, entrava e saía, por vezes a comer).
No sítio onde eu estava, na primeira plateia, numa razoavelmente confortável cadeira que girava e permitia centrar de modo mais adequado a minha visão, ouvia bem a peça musical e observava a assistência.
Não vou tecer comentários ao espectáculo em si, mas ao descontraído ambiente cultural. Há o hábito de beber antes do espectáculo, seja uma água, um refrigerante, cerveja ou mesmo champanhe. Ou comer uma refeição. Mas não notei o final caloroso dos espectadores portugueses. A peça (maestro, cantores, orquestra e coro) foi muito ovacionada, mas o público permaneceu sempre sentado.
O catálogo do programa - com muita publicidade a suportá-lo financeiramente - faz a transposição total do texto. Canta a mezzo-soprano: "Premiers transports que nul n'oublie!/ Premiers aveux, premiers serments/ De deux amants,/ Sous les étoilles d'Italie".
Os outros dois espectáculos que assinalo a seguir são musicais, cantados na zona dos teatros do Soho (e Strand), quer um quer outro com uma longa carreira de representações e também passados recentemente ao cinema [aqui no blogue cheguei a comentar o Fantasma da Ópera].
Nestas salas de teatro (no teatro Adelphi, Chicago, de Fred Ebb, John Kander e Bob Fosse; no Her Majesty's Theatre, The phantom of the Opera, de Andrew Lloyd Webber, que, há 30 anos, compunha Jesus Cristo Superstar), há também o hábito de beber e comer antes e no intervalo. Neste, os espectadores trazem gelados e bebidas para dentro da sala. Atrás de nós, havia mesmo raparigas que bebiam vinho, o que provocava um cheiro menos habitual na nossa cultura de teatro. Num e noutro espectáculos, os cantores usam microfones (muito pequenos, quase sempre junto ao cabelo), o que permite amplificar muito o som das suas vozes. Tal fica dentro daquilo a que Philippe Teillet (2004, Publics et politiques des musiques actuelles) chama de músicas amplificadas [trabalharei este conceito em mensagem posterior].
A representação de The phantom of the Opera tem também muito recurso a tecnologias, quer visuais quer sonoras, o que o torna um espectáculo muito emocionante, melhor que no cinema, pois a acção decorre num espaço delimitado e não há um corte no tempo e no espaço tão visível como no filme [na última imagem, Rachel Barrell, que desempenha o papel de Christine Daaé, a jovem cantora conduzida e aprisionada pelo fantasma].
Observação: a Antena 2 tem dado uma excelente cobertura a estes concertos. No final da temporada dos Proms (finais de Agosto, começo de Setembro), haverá mesmo uma equipa da estação a acompanhar, directamente do teatro londrino, a transmissão desses concertos, como o fez aliás da Festa da Música (quer em Nantes quer em Lisboa/CCB).
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