domingo, 13 de novembro de 2005

LIVROS DE MEMÓRIA E ESTRATÉGIAS DE MARKETING

Ontem e hoje, os jornais dão-nos a pré-publicação de livros de António Lobo Antunes e Maria Filomena Mónica. Confesso que esses livros - a comprar quando os vir numa livraria - me entusiasmam mais do que a presente pré-campanha para a presidência da República. Apesar desta última apontar o futuro (embora tudo cheire a passado), prefiro o que tem a marca sincera do passado.

De Lobo Antunes, os aerogramas (cartas grátis em papel amarelo) que ele escreveu de Angola à mulher (durante o serviço militar, entre 1971-1973), exactamente o período em que eu estive no mesmo país e a fazer o mesmo. De Filomena Mónica, as memórias desde que nasceu (1943) até 1976. Se, de um se espera o registo íntimo de alguém obrigado a sair violentamente do seu sítio [a intimidade tornada pública por outros agentes que o autor; no caso, as filhas dele], da outra aguarda-se igualmente um registo pessoal [risco assumido em mostrar, quiçá com violência]. Um parte do exterior social e político para mostrar o interior psicológico e afectivo, a outra parte do interior afectivo para mostrar o exterior quotidiano.

Possivelmente, estes dois livros vão contar mais do Portugal triste de meados dos anos sessenta e setenta que muitos livros de história. Apesar de histórias pessoais, as relações pessoais, a visão dos problemas da época e a sua contextualização vão servir para compreendermos melhor o que foi o país num dado momento. O corte com uma realidade pessoal e social e o sofrimento e a incompreensão da guerra colonial, por um lado, a aprendizagem sexual a ocorrer em simultâneo com a emancipação de uma mulher, por outro, são ingredientes suficientes para lermos as obras.

Estratégias de marketing. Ambos os livros ocupam páginas nos jornais de ontem e de hoje, com a indicação de pré-publicação. A data de saída para as livrarias ou já ocorreu ou acontecerá nestes dias mais próximos. Isto é: são boas compras para o Natal. Do mesmo modo, o terceiro volume da biografia não autorizada de Álvaro Cunhal, escrito por José Pacheco Pereira, também se anuncia para os dias finais de Novembro. A isto se chama uma boa estratégia de marketing. Todos os livros são memórias: ou pessoais ou escritas por pessoa interposta. Claro que eu não posso fugir a este movimento: o meu livro As vozes da rádio saíu há dias e os jornais diários de Lisboa deram-me um espaço lisonjeiro.

1 comentário:

sabine disse...

Estou farta do consumismo natalício: começa em Setembro e termina perto da Páscoa!
Interessou-me muito o livro do António Lobo Antunes. Se o comprar, não há-de ser por estarmos perto do Natal!