Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
terça-feira, 23 de janeiro de 2007
HISTÓRIA DO JORNALISMO NOS ANOS 60
Fernando Correia e Carla Baptista. Jornalistas: do ofício à profissão. Mudanças no jornalismo português (1956-1968) - livro da Editorial Caminho a ser lançado em Março
Hoje, decorreu mais uma sessão do II Seminário de de Cultura de Massas em Portugal no Século XX, na Universidade Nova de Lisboa, falando Carla Baptista e Fernando Correia sobre Os anos sessenta como um período de viragem no jornalismo escrito português.
Como eu previa, foi uma belíssima sessão. Trabalho já concluído e pronto a publicar em Março próximo, com o título Jornalistas: do ofício à profissão. Mudanças no jornalismo português (1956-1968), editado pela Caminho, os autores apresentaram alguns dos seus pontos essenciais.
Factores tecnológicos, históricos e dentro do próprio campo mediático foram assuntos desenvolvidos. Por exemplo, a máquina de escrever entrou na redacção do Diário Ilustrado em 1956, vulgarizando-se apenas na década posterior. Até aos anos 50, os telegramas das agências eram distribuídos por estafeta, aparecendo depois o telex, mas funcionando apenas num sentido, o da agência noticiosa para os jornais. O fax e o gravador portátil (ainda muito pesado) surgem também no período estudado. E é também nessa época que os jornalistas passam a deslocar-se de viatura para alguns serviços de exterior, aproveitando as furgonetas que faziam o trabalho de envio de jornais.
A razão das balizas históricas do trabalho a publicar explicam-se rapidamente. 1956 é o ano de arranque do Diário Ilustrado [que eu fiz uma mais que curta alusão no passado dia 10 aqui] , diário precursor de um conjunto de renovações: redacção jovem, com habilitações literárias a nível da licenciatura, novo modelo empresarial apostando no outsourcing (a impressão era feita na tipografia do jornal O Século), meios tecnológicos (máquina de escrever para todos os jornalistas), corpo de fotógrafos (Eduardo Gageiro começaria ali a sua frutuosa carreira) e arranjo gráfico cuidado e inovador. Para completar as mudanças, faltaria ao Diário Ilustrado admitir mulheres na sua redacção.
Já 1968 é o ano da mudança de primeiro-ministro, com a subida de Marcello Caetano ao poder e a esperança de alteração de regime político, que ficaria por fazer. Nos anos subsequentes - e o trabalho recente de Ana Cabrera (Marcello Caetano: poder e imprensa) ilustra isso - ocorreriam profundas alterações no campo jornalístico: lei da imprensa de 1972, mudança da tipografia de chumbo a quente para o offset no Diário de Lisboa em 1971, compra de jornais por empresas capitalistas.
A entrada da televisão (1957) e a criação do jornalismo radiofónico, enquanto nascia a concorrência entre jornais, marcam ainda a história dos jornais, caso dos de Lisboa. Fernando Correia e Carla Baptista estudaram em especial os vespertinos (Diário Ilustrado, Diário de Lisboa, Diário Popular, A Capital), jornais onde se verificariam maiores alterações. E estabeleceram uma geografia bem precisa do negócio do jornalismo, o Bairro Alto, espaço que significa convívio, debate de interesses, identidade profissional dos jornalistas. Num tempo em que os tipógrafos tinham muita força enquanto classe laborial e a censura existia de modo pesado. Aliás, os Serviços de Censura funcionavam perto (no actual Solar do Vinho do Porto), o que "facilitava" a deslocação de provas entre jornal e entidade censória. Os jornais empregavam contínuos para fazerem essas "entregas" de modo rápido. Um deles chamava-se Carlos Lopes, mais tarde conhecido mundialmente como campeão de atletismo.
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