domingo, 8 de julho de 2007

SOCIOLOGIA DO CONSUMO

1. Apresentação

Nicolas Herpin tem, no seu livro Sociologie de la consummation, um capítulo chamado Du pouvoir médiatique au rôle de l'État: les consommateurs «manipulés»? (pp. 59-76), onde escreve sobre indústrias culturais, a partir da perspectiva da escola de Fankfurt (Adorno e Horkheimer; Marcuse). Começa por apresentar a sociedade no capitalismo avançado, onde os produtos (bem úteis) destinados ao proletariado (masses ouvrières, prolétariat) são de gama baixa, pouco diversificadas, de qualidade medíocre, muitas vezes com defeito e imperfeições.

Na sociedade industrial - designação que aproxima da de capitalismo avançado - ninguém escapa à uniformização de valores e de práticas e normas sociais veiculadas pela cultura de massa. Esta uniformiza as classes sociais quanto a aspirações e gostos. A atracção para os produtos estandartizados resulta da acção concertada de um sector económico particular, o das indústrias culturais.

Herpin encontra três características principais das indústrias culturais: 1) elas têm poder graças à cultura de massa, difundindo-se ao grande público, em que a autonomia e a criatividade não escapam ao controlo dessas indústrias culturais, 2) elas actuam junto dos produtores, adicionando características simbólicas às utilitárias, em que o design incorpora, ao objecto manufacturado, formas retiradas da arte, a estética, 3) elas são mobilizadas pela publicidade, que faz a ligação das características simbólicas às necessidades dos consumidores.

As indústrias culturais, reconhece Herpin, constituem um sector económico em progressão, mas há numerosos estudos que põem em causa a sua acção. Os consumidores são apanhados por políticas de comunicação. O sociólogo serve-se dos trabalhos de Lazarsfeld, que concluem que a influência das mensagens mediáticas não é tão forte como se dizia: o comportamento de um indivíduo não se molda ao que dizem os media mas ao que dizem os familiares, os amigos e os vizinhos.

Escreve Herpin:

les messages des "sources expertes", ceux qui diffusent les médias ou agents institutionnels, font moins autorité que ceux des partenaires ordinaires de la vie de tous les jours (p. 67).

2. Crítica

O capítulo é errático, mal fundamentado e não incorpora as investigações de autores contemporâneos de Herpin e que escreveram profundamente sobre indústrias culturais: Edgar Morin, Patrice Flichy, Bernard Miège. Apoia-se em Paul Lazarsfeld, como se o trabalho do austríaco estivesse actualizado. Escreve que os produtos destinados às classes mais baixas são de fraca qualidade, mas esquece-se que o factor ostentatório as leva a comprar iPods e plasmas. Mistifica o conceito de indústrias culturais, traçando uma fronteira delas com a estética, acha que elas uniformizam e que a criatividade é controlada.

Herpin parece ter petrificado em 1947, quando Adorno e Horkheimer apresentaram o conceito de indústria cultural. Nestes últimos anos em que o Reino Unido desenvolve o conceito de indústrias criativas e procura identificar o valor do PIB nestas actividades, ilustrando um sector resplandescente - música, vídeo, teatro -, em França, Herpin joga com as palavras e enreda-se em contradições.

E sobre a perda de influência das fontes oficiais e especializadas sobre os media, em detrimento das fontes normais (ordinaires), em que mundo está?

Isto tudo além de uma bibliografia desactualizada. Nem refere a dicotomia estabelecida entre Lazarsfeld (cultor de métodos quantitativas de investigação) e Adorno (filósofo e defensor da alta cultura burguesa conquanto marxista).


Leitura: Nicolas Herpin (2004). Sociologie de la consommation. Paris: La Découverte

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