Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
BANDA DESENHADA (I)
A banda desenhada (comics em inglês americano) não é apenas para crianças lerem. Também os adultos consomem a banda desenhada. E esta não está somente nas lojas de ou quiosques de revistas; hoje, enche as paredes de galerias e museus. Além de antologias anuais das melhores bandas desenhadas nos Estados Unidos e do surto de coleccionadores. Eis o tema do livro de Douglas Wolk, Reading comics (2007).
O autor fala de uma idade de ouro da banda desenhada (BD), iniciada por volta de 1937-1938. Os seus criadores eram jovens empreendedores mas muito mal pagos.
Nos Estados Unidos, formam-se duas escolas, a dominante (mainstream) e a de arte. Mas ambas fazem parte de um medium cada vez mais importante nas indústrias culturais. Com géneros específicos: western, filme negro, guerra, horror, desporto, romance, com animais engraçados, crime, juvenil, super-heróis. E categorias específicas de temas e convenções no conteúdo e na apresentação. Se há BD de autor e BD de arte, realça-se mais a componente de história económica da arte da BD do que a sua história estética.
Nos anos de 1950, com livros e tiras diárias nos jornais, havia experimentações visuais. Algumas BD ganharam audiências e leitores fixos (fãs), onde se dedicava atenção aos autores em vez de personagens específicas.
Já nos anos de 1960, as grandes editoras, até aí as únicas responsáveis pela edição de livros, dado o custo, passavam a ter a concorrência de pequenas editoras de contracultura, através de lojas que vendiam BD a preto e branco, com temas de transgressão e artísticos. Algumas BD de contracorrente assumiam deliberadamente figuras feias, grotescas e repulsivas como personagens principais das histórias. E pequenas editoras granjearam sucesso, entrando em livrarias outrora renitentes ao produto BD - ganhava-se respeitabilidade.
Os anos de 1970 dão um cariz diferente ao negócio: ao lado de lojas que vendiam as novidades, surgiam fundos de catálogo para coleccionadores de BD, funcionando o marketing directo.
Muito projectos começaram por ser simples panfletos, serializando-se depois em 20 a 40 páginas de dimensão. Se alcançavam boas audiências, eram republicados sob a forma de livro. Isto enquanto, e como se disse atrás, nasce a ideia de coleccionar, frequentemente associada ao mercado da nostalgia. Se eu, em criança, li determinada série de BD, mas não a comprei ou a deitei fora, agora quero recuperá-la e pô-la na estante ao lado dos livros sérios. É tentar voltar à infância e à juventude onde se foi feliz.
[continua amanhã]
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