sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

SOBRE MARSHALL MCLUHAN


Originalmente tese de mestrado defendida em 2003, e alterada e ampliada para edição, o livro de Filipa Subtil aborda o trabalho de um dos mais originais pensadores do século XX no campo da comunicação. Canadiano, McLuhan (1911-1980) foi professor de literatura antes de se tornar conhecido pelas suas obras, em especial Galáxia Gutenberg e Understanding Media [o livro de Filipa Subtil foi lançado em 18 de Abril deste ano e pode ser visto aqui um pequeno vídeo].

Dividido em três capítulos, o livro sobre McLuhan detém-se sobre a forma como ele encarou as consequências das tecnologias de informação e do conhecimento, a análise da teoria dos media e o impacto que os conceitos de McLuhan tiveram no campo científico e o estudo das "extensões" e as transformações que eles trazem à sociedade. O livro de Filipa Subtil também põe a obra de McLuhan em contraponto ou continuidade com as de Lewis Mumford, Walter Benjamin, Jack Goody, Harold Innis, Jean Baudrillard e Paul Virilio, entre outros. Assim, neste texto de cerca de 160 páginas, precepcionamos bem o percurso do pensamento de McLuhan, mas também as influências recebidas e transmitidas.

Destaco, naturalmente, a influência que McLuhan recebeu de Harold Innis (1894-1952) e que enche parte do capítulo final do livro que aqui apresento. Innis - que não é um autor muito conhecido em Portugal - apresenta dus ideias principais na relação tecnologia/civilização: 1) as tecnologias revelam os modelos relacionais e de pensamento de um período, 2) as civilizações expandem-se e estabelecem contactos através de meios artefactais. Meios como canais, estradas, caminhos de ferro e media afectam a organização social (Subtil, 2006: 116).

A natureza da tecnologia dos media influencia o modo de pensar e agir dos seus membros, através de monopólios de conhecimento. Num trabalho inicial sobre a importância estratégica da comunicação e do jornalismo, Innis revê o papel tido pela imprensa no aumento da velocidade na comunicação e nos transportes do século XIX. Como a imprensa passou a estar dependente da publicidade, tal contribuiu para a difusão do sistema de preços (Subtil, 2006: 124). Devido ao uso do marketing e da publicidade, o jornal seria um precursor dos departamentos de vendas; a publicidade inserida nos jornais torna este um aliado do mundo dos negócios.

Se McLuhan partiu de intuições de Innis, ele traçou perspectivas muito próprias, com um pensamento original. Galáxia Gutenberg (1962) parte do princípio que a história da humanidade se compreende à luz das tecnologias da comunicação (Subtil, 2006: 32). A escrita e os seus significados concentra a atenção de McLuhan. Antes da comunicação escrita, a humanidade recorria a todos os sentidos para comunicar, resultando um conceito de comunidade. A escrita começou um processo de fragmentação sensorial, o qual culminou com a tipografia (Gutenberg). Uma nova partilha sensorial ocorreu com as tecnologias de informação, do telégrafo aos media electrónicos.

Além do relevo aos principais elementos da obra de McLuhan, no livro de Filipa Subtil faz-se também uma crítica à obra daquele pensador, casos do seu determinismo tecnológico e o ignorar a análise histórica dos media, além de factores sociais, económicas, políticas e culturais. Trata-se de um livro bem escrito e de muita profundidade, em especial para os leitores portugueses que conhecem McLuhan mas não sabem o seu percurso. Como se lê na contracapa do livro:


  • Através da atenção aos significados do processo social e percepcional da comunicação oral, escrita e electrónica, McLuhan propõe uma concepção dos media que continua a captar o elemento fundamental das mudanças que estão a ocorrer por via das tecnologias de informação - os media são mensageiros que constituem eles próprios a sua mensagem.
[de McLuhan já falei aqui em 17, 20 e 22 de Junho de 2005; de Innis escrevi a 19 de Junho de 2005]

Leitura: Filipa Subtil (2006). Compreender os media. As extensões de Marshall McLuhan. Coimbra: MinervaCoimbra

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