Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
domingo, 25 de maio de 2008
LER JORNAIS VERSUS VER TELEVISÃO
O meu ponto de partida pode ser bizarro, quando defendo a importância da leitura de jornais face aos noticiários televisivos: a distância do olhar ao objecto olhado. Quando vemos televisão, a distância é elevada, existindo focos de atenção entre nós e o aparelho, que nos desconcentra. A aliar a isso, uma menos capacidade de atenção do meio visual, em que a imagem vale mais do que o texto. Por seu lado, quando lemos um jornal ou um livro, a distância entre o olhar e o objecto é a distância focal do indivíduo, obrigando a uma mais elevada concentração dos sentidos.
Isso, a meu ver, justifica porque compreendo melhor as situações actuais na China e na África do Sul lendo os jornais do que vendo os noticiários da televisão. No Público, Jorge Almeida Fernandes explica-nos porque "O mundo gosta da China". Porque o recente terramoto naquele país foi acompanhado quase em directo e permanência pelos governantes e pelos media, dando um retrato do desastre mas, em especial, das medidas de solidariedade nacionais e internacionais, quando em contraponto com o isolamento total (informativo e governamental) em tragédia semelhante em 1976.
Já no Observer, John Carlin explica o que se está a passar na África do Sul ("Blame it on apartheid's cruel legacy of bad schooling and joblessness"). A morte e a violência nas cidades daquele país explicam-se por aquilo a que Carlin chama de negrofobia: não são os brancos os principais alvos da violência mas os imigrantes de Moçambique, Malawi, Somália, Congo e Nigéria. Neste momento, a África do Sul tem 40% de população desempregada; os imigrantes são mais bem qualificados e ganham aos naturais do país os empregos em concurso, o que os põe zangados, impotentes, ressentidos e, em especial, com fome. Pergunta Carlin: imaginem que 40% dos naturais de países como a França, Reino Unido ou Espanha estivessem desempregados e os novos empregos fossem para imigrantes do leste europeu ou de outras origens. O que fariam?
Por isso, retomo a minha perspectiva: a distância do olhar ao objecto olhado é um elemento fundamental na compreensão e conhecimento dos factos. A reflectir com mais profundidade numa outra ocasião.
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1 comentário:
"a distância do olhar ao objecto olhado."
Um belo tema para reflexao. Os parâmetros que definiu para a distância na observaçao de um acontecimento, parecem-me interessantes: determinar o que provoca + - atençao, interesse,compreensao, empatia, capacidade de representaçao, etc.
Gostaria de o ler, ouvir a desenvolver o tema.
mgf
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