Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
segunda-feira, 16 de junho de 2008
CULTURA WEB
É uma obra monumental (891 páginas) o livro Culture Web. Création, contenus, économie numérique, editado sob a direcção de Xavier Greffe e Nathalie Sonnac. Os colaboradores da obra são imensos, tendo eu, numa rápida leitura em diagonal, apanhado nomes como Françoise Benhamou, Divina Frau-Meigs, Robert G. Picard e Rémy Rieffel, para apenas citar autores que já conhecia previamente.
Dividido em oito partes, relacionadas com informação e conteúdos próprios, audiências e públicos, distribuição digital, autores e criação de conteúdos digitais, modelos de negócio, cultura, regulação e diversidade e ética, há temas para os quais os meus olhos saltaram de imediato. Os capítulos sobre públicos e audiências, matérias que tenho trabalhado nos anos mais recentes, os capítulos sobre cultura, o conceito de diversidade cultural, muito específico dos franceses. Mas também um capítulo sobre blogues e a política, ou a democracia em kit, como prefere chamar o autor, Thierry Vedel.
Vedel (p. 63), que distingue blogues centrados no indivíduo (jornal íntimo), centrados na descrição de um ambiente familiar (de adolescentes, por exemplo), centrados em temas particulares (ou de fãs ou de coleccionadores) e centrados na troca de opiniões (micro-espaços públicos), indica que os blogues políticos podem transmitir responsabilidade política, espaços de especialistas, actuar como blogues-cidadãos ou apenas ser câmaras de eco ou de egos.
Uma ideia interessante no texto de Thierry Vedel é o modo como ele liga os blogues e os media clássicos, sem esquecer a função de gatekeeping e o papel do jornalista. Seguindo Dan Gillmor, Vedel conclui que os blogueiros de maior reputação são convidados para congressos e conferências de imprensa e beneficiam dos mesmos privilégios e atenção dos jornalistas (distribuição de dossiês, conversas off-the-record, entrevistas).
Indica ainda que os blogues não produzem informação inédita ou não criam análise nova, mas seguem a agenda dos media clássicos, com modelo editorial, hierarquia e tematização retirados destes (p. 70). Tais limitações dos blogues são compensadas pela sua rapidez, pela partilha e retransmissão de ideias, pela crescente legitimação dos novos modelos de apresentação da informação. Os blogues políticos, escreve Vedel no último parágrafo do seu texto, revitalizam o espaço público, mesmo quando não trazem soluções aos problemas e fragmentam ainda mais a opinião pública (p. 75).
Leitura: Xavier Greffe e Nathalie Sonnac (2008). Culture Web. Création, contenus, économie numérique. Paris: Dalloz. 891 páginas. Preço aproximado: €56,73
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