Anteontem, escrevi sobre o museu da Rádio, sob a forma de uma CARTA ABERTA A PEDRO JORGE BRAUMANN. Nesse texto, pedia ao responsável pelo Núcleo Museológico que fosse reconsiderada "a criação de um espaço de museu virtual, sem mais nada. Os visitantes querem peças reais, físicas".
Confirma-se a abertura do museu virtual, elemento complementar da colecção visitável com peças museológicas de carácter mais eminentemente simbólico, num total de aproximadamente cem peças, a expor num espaço de 300 metros quadrados e a abrir até ao final de 2008 (ou, caso surja um imprevisto, nos dois primeiros meses de 2009). As peças são ligadas aos dois meios representados na RTP: rádio e televisão. O museu virtual permite fazer pesquisa de conteúdos. Além das peças a expor, há ainda uma reserva visitável, guardada em adequadas condições de temperatura e humidade em espaço das caves da sede da RTP (em Lisboa). As peças existentes em Pegões, como escrevi na mensagem acima mencionada, são objectos sem qualidade científica ou repetidos. Em simultâneo com a abertura da colecção visitável e do museu virtual, abrirá na Madeira a exposição comemorativa dos 50 anos da RTP, que esteve anteriormente em Lisboa.
Destas informações, depreende-se o acabar definitivo do Museu da Rádio, o que confirma a incorrecção dos termos da carta que recebi em Maio de 2004: "a instituição dará oportunamente lugar ao futuro Museu da Rádio e Televisão, passando a incorporar também o espólio do núcleo museológico da RTP". O museu virtual não substitui o museu real, é uma falácia em que andamos a embarcar desde que existe a internet, mais precisamente desde o momento da sua explosão massificada, 1995! Dentro dessa panaceia à second life, a anterior ministra da Cultura queria um museu virtual da Língua portuguesa, ideia que o actual titular fez muito bem em acabar.
O museu virtual faz-se quando não há peças, bens tangíveis, elementos vivos, que suprimam tais faltas. É essa a grande virtude, por exemplo, do museu do cinema em Berlim, magnífico espaço em que a imagem tem o lugar principal - mas o cinema é basicamente imagem, logo não há discrepância de grandeza maior. Agora, desaparecer um museu da rádio - com um espólio bem melhor do que em outros sítios e que funcionava -, não, isso é imperdoável. Sem os conhecer, fiz uma cartografia de responsáveis: a administração da empresa da rádio pública e a tutela no Governo. Os consumidores da cultura e os apreciadores da rádio, presentes e futuros, apontarão o dedo a estas entidades por deixar desaparecer uma instituição como o Museu da Rádio.
Um museu virtual, ainda que complementar, faz-me lembrar a ideia do Portugal dos pequenitos (Coimbra) ou da Minitália (Milão), espaços de lazer para os mais pequenos, lembrando uma época passada, e desenhada com (pre)conceitos patrióticos e saudosistas. E não acredito na versão da escassez de finanças: a anterior ministra da Cultura propôs criar um museu público.
Um museu virtual pressupõe conhecimento. Onde está ele no tocante à rádio? Que investigações têm sido feitas sobre a rádio? Que livros estão publicados? Que conferências sobre a história da rádio? Ou que protocolos com as universidades para estudar a rádio? Não, não há, ou pelo menos eu não conheço em abundância - e procuro andar actualizado.
Lisboa vai ficar um tudo nada melhor do que, por exemplo, Berlim: com o museu virtual, a RTP tem um espaço visitável, coisa que a rádio pública alemã não tem na sua capital, fechado há dois ou três anos. Mas, certamente, o Museu da Rádio português tinha um maior espólio. E espaços, como o estúdio em que Artur Agostinho falava à reportagem da Rádio Renascença (aqui, realizada em finais de 2007), ficarão desmontados, por falta de espaço na colecção visitável.
Agradeço a amabilidade das informações prestadas pelo Dr. Pedro Jorge Braumann. Compreendo, afinal, que as suas funções são executivas. A decisão de não criar o Museu - melhor, de manter o Museu - veio da tutela no Governo, observando eu, ainda, as contradições de um assessor da administração da RTP quando me respondeu em 2004.
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