EU TAMBÉM ADIRO AO MOVIMENTO DO JORNALISMO ESCRITO PAGO (email recebido de Afonso Pimenta, às 19:29 de hoje)
MFJEP - Movimento a Favor do Jornalismo Escrito Pago
http://mfjep.wordpress.com/
O "Anti- Twitter"
O jornalismo, como o tivemos, não durará. Existe uma certa demissão na transferência para o virtual. O cidadão informado - que, acima de tudo, se quer, a ele próprio, informado – reduz-se, em grande medida, à fragmentação; ao pluralismo em linha. Encontra-se, parcialmente, desligado. Este modelo, como complemento de uma tentativa de agarrar o actual, embora menos reflectido, é já necessidade. Longe de substituir o conhecimento integrado que o artigo de opinião, a reportagem densa e a investigação demorada conferem.
Numa realidade em que muita da “actualidade” não passa de tentativa de desinformação, manipulação, apropriação ou veículo de marketing e propaganda, afirma-se a necessidade de atenção ao pormenor.
A tentação do entretenimento, o jornalismo direccionado, o argumento do consumidor activo encerra a contradição de um maior sedentarismo. A World Wide Web torna-se, assim, menos democrática. Na afirmação das nossas escolhas, vamos ao encontro do que já somos. A notícia “num clique”, confirma-nos: mantém-nos longe.
O jornalismo escrito, enquanto produto, não pode ser encarado exclusivamente como tal: ele é aquilo que me alerta para o que eu não sou. O único veículo que possuo para estar atento relativamente ao que é exterior à minha diminuta capacidade de alcance e atenção: o poder.
A acomodação do consumidor à formatação preguiçosa dos jornais em linha tem conduzido ao desinvestimento publicitário , diminuição qualitativa e consequente perda de novos leitores, emagrecimento de redacções e falência de inúmeras publicações a nível global.
O relativista, na sua constante necessidade de almofadar a realidade dirá que tudo se recompõe: o mercado regula sempre, como sempre nos quiseram fazer crer, apesar de inúmeros avisos, a interminável corte de padres economicistas. Começa aqui o problema: o mercado, visto como um gigante, ausente de influência humana. Redundância.
Segundo previsões, o formato em linha, numa hipotética realidade – de resto, segundo alguns, mais próxima do que desejaríamos acreditar – em que o suporte físico desapareça, poderá apenas suportar 10% dos custos que as publicações actuais exigem. Saber custa dinheiro. Pelos vistos, a democracia também.
Por isso, compro um jornal por dia.
Afonso Pimenta
Movimento
Faço parte dos muitos que, gradualmente, foram deixando de comprar jornais. O processo começou há anos. A partir de certa altura, todos os principais jornais estavam online. Na internet conseguia ler mais jornais do que seria possível em papel. Quando, há cerca de 8 anos, trabalhei como jornalista num site, nos meus favoritos havia uma pasta “Jornais”, e dentro, uma pasta para cada país. Entre jornais portugueses, espanhóis, franceses, ingleses, alemães, italianos e americanos, tinha uns 30 links disponíveis, que me permitiam saltar rapidamente para a página do jornal. Isto aconteceu, obviamente, na pré-história.
Actualmente, com a subscrição de feeds, o meu método anterior é algo de anacrónico e obsoleto. No Google Reader, no telemóvel, num PDA, em qualquer tipo de suporte é possível subscrever as actualizações de uma publicação online. É possível organizar, filtrar, personlizar a recepção dos novos textos, através do leitor de feeds que usarmos. Dessa forma podemos acompanhar, arquivar e pesquisar uma quantidade grande de informação. Sei perfeitamente que a internet oferece ferramentas interessantes e versáteis, que - e faço a inversão de sentido sem ironia - os jornais não podem substituir. O que motivou a minha participação no MFJEP não é sentir, de alguma forma, repulsa ou sobranceria em relação aos jornais e outras publicações online, e muito menos algum tipo de desprezo ou fobia em relação ao meio www.
Associo-me desde o início ao MFJEP - Movimento a Favor do Jornalismo Escrito Pago, porque vejo nesta iniciativa uma forma de cidadãos exigentes e atentos lutarem contra a degradação deste pilar fundamental da democracia que é o jornalismo.
Sei que dizer, em relação ao jornalismo, que se trata de “um pilar fundamental da democracia” é um cliché gasto pela repetição - pelo menos tanto quanto a expressão “movimento a favor”. Talvez o desinteresse e a falta de iniciativa, crónicas e contagiosas maleitas de que padecem os portugueses, expliquem que nos custe tanto movimentarmo-nos em conjunto a favor de algo que nos diz respeito. A maior parte das pessoas não se alarma com o perigo de degradação da qualidade do jornalismo, quanto mais reflectir sobre as suas consequências directas na degradação da qualidade da democracia. É também aqui que pretendemos atacar, ferindo a inércia e a preguiça, despertando e usando de saudável agitação.
Tal como o Afonso refere no texto que lançou este movimento, o jornalismo que conhecemos hoje, pode acabar dentro de pouco tempo. O modelo existente ainda tem o jornal de papel com o seu preço de capa e a sua publicidade tradicional, mesmo se nos sites se concentram mais serviços e, na maior parte dos casos, mais notícias e mais actualizadas que na versão em papel. Ora, com a queda nas compras e os custos de manutenção não só da versão impressa mas também da versão e serviços online, muitos jornais correm o risco de fechar. Outros, ainda que não acabem, poderão ser desvirtuados até ao ponto de se perderem grande parte dos critérios jornalísticos.
Se nada mudar, ficaremos entregues a um número (ainda mais) reduzido de jornais, quase todos apenas na versão online. E, o problema maior é esse, a versão online não será o que é hoje - com as redacções a serem reduzidas e os jornalistas a acumular tarefas e a ficar sem tempo para assegurar qualidade e rigor.
Compra um jornal por dia! Estás a assegurar o teu futuro, não só o dos jornais. Ou preferes um mundo sem informação credível? Escolhe viver num futuro em que a imprensa livre se reforça e consolida, em vez de desaparecer ou ficar moribunda.
Nuno Miranda Ribeiro (http://mfjep.wordpress.com/http://twitter.com/mfjepmfjep@live.com.pthttp://twitter.com/mfjepmfjep@live.com.pt)
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