
Pensei, quando vi as manchetes: a vítima de 2006 afinal virou vilã, aproveitando as armas de Penim e Chaves. Ainda por cima com títulos a marcarem esse território: Casou-se no domingo, em segredo, com um homem 12 anos mais novo e não teve na cerimónia os filhos, a mãe e a sogra. Família revoltada (TV Guia) [a mãe já faleceu] e Clara de Sousa. Desesperada por engravidar (Nova Gente). Com as fotografias de capa a ajudarem a configurar a mulher malvada em que se tornou. Parecia a vitória definitiva da vítima.

Quando em 2006 escrevi sobre O BELO, A VÍTIMA E A VILÃ, adiantava que as revistas de televisão e cor-de-rosa vivem de notícias para além da programação televisiva. Vivem, sobretudo, das estrelas e das celebridades da televisão, constroem narrativas paralelas às histórias que aquelas representam nos programas, revelam a parte privada das personalidades públicas. Melhor: eliminam a parte privada, porque esta ao ser publicitada nas revistas torna-se pública. E as leitoras (mais os leitores) gostam destas histórias de vilãs, mas também de vítimas que acabam por inverter a situação e ganhar, de casamentos e de crianças que nascem e crescem e se exibem nas revistas, num prolongamento natural das gerações tipo álbum de família.
Aparentemente, não há uma agenda de acontecimentos, mas eles encontram-se: foi a semana do casamento da modelo e apresentadora Marisa Cruz com o jogador João Pinto, depois veio a mágoa da actriz Alexandra Lencastre porque o namorado a queria trocar por outra (mas uma revista assegurava a falsidade da informação e mais tarde a vilã foi desmascarada e voltou tudo à normalidade). A agenda é distinta dos jornais de informação geral, não narram outras desgraças e acidentes a não ser divórcios e paixões desfeitas, mas os enredos tornam populares os que entram nas capas. Pode mesmo acontecer que as personagens que aparecem nas capas paguem bom dinheiro para haver boas histórias. Nesse sentido, surge, por vezes, um(a) jovem divorciado(a) a dizer que está solteiro(a) e à procura de par.
No caso presente, a jornalista pode ficar algo irritada, mas, no fundo, ela e a televisão que representa têm publicidade gratuita. A sua história palpitante, com enredos telenovelísticos, pode augurar um regresso da audiência aos programas do canal. Afinal, ela é uma estrela da televisão e ganha à concorrência feminina dos noticiários das 20:00.
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A apresentação do Próximo Futuro será feita dia 19 de Maio, terça-feira, na Sala 2 da Sede da Fundação, às 15h30, por Emílio Rui Vilar, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian e por António Pinto Ribeiro, coordenador do programa.
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