Samuel Godinho, director-geral executivo da agência Carat Portugal, à revista "Pública" (Público, de 8 de Agosto último) falou da relação da publicidade com o jornalismo e da existência da imprensa. Para ele, a imprensa "tem de se redimensionar, reinventar do ponto de vista de conteúdos, olhar cada vez mais para o que o consumidor quer [...] As empresas estão por vezes distraídas, não têm acompanhado as dinâmicas do mercado e a evolução geracional do consumo. Os índices de leitura da população não aumentaram o que não quer dizer que os jovens estejam a ler menos, e estarão porventura muito mais informados do que a geração dos seus pais. [...] Têm acesso à informação de outras formas".
O enunciado deste responsável da Carat Portugal merece reflexão, dada a importância das afirmações. Reconhece que os índices de leitura não aumentaram mas crê que haja mais informação acedida e consumida, o que parece uma contradição. Considera que há empresas distraídas na concepção dos seus modelos de negócio, desacompanhando as novas tendências. A meu ver, as empresas de media que actuam nos mercados considerados tradicionais - caso da imprensa em papel - têm trabalhado na internet mas ainda não encontraram um modelo rentável. Isso acontece em todo o Ocidente e não é problema apenas em Portugal. O responsável da Carat Portugal indica ser necessária a reinvenção de conteúdos, mas não sugere que tipo de reinvenção. Isto é, apontam-se os problemas mas surge uma dificuldade em apresentar soluções.
Talvez mais perto das soluções estejam Lennart Weibull & Åsa Nilsson, no texto editado este ano “Four decades of European newspapers: structure and content”, no livro de Jostein Gripsrud e Lennart Weibull, Media, markets & public spheres. Para os autores, há tendências precisas: aumento do preço dos jornais, quebra de publicidade por migração para a internet, aparecimento de jornais gratuitos. Mas também mais suplementos (muitos com linha editorial própria), fragmentação (com alargamento de temas culturais, económicos e desportivos, por exemplo), apropriação de bandeiras da imprensa tablóide pelos jornais de qualidade (como a ilustração editorial do tema central da edição, mais espaço para temas de consumo, bem-estar, entretenimento e "fofocas"). Estas linhas talvez indiquem o futuro da imprensa, a sua reinvenção, além do retrato dos problemas por Samuel Godinho, mesmo que desagradem a defensores de um modelo específico de imprensa.
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