domingo, 25 de março de 2012

Saúde e internet

Assinado por Rita Espanha, Rita Veloso Mendes, Rui Brito Fonseca e Tiago Correia, saiu agora o livro Os portugueses, a saúde e a internet, uma edição da Fundação Calouste Gulbenkian para o Projeto SER (Saúde Em Rede) do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL). A obra reflete a análise sobre a relação dos portugueses com as tecnologias de informação quanto a assuntos de bem estar e de saúde (p. 2).

Na introdução, lê-se que não "é despropositado pensar na possibilidade de uma cirurgia que esteja a decorrer em Portugal seja participada por médicos em Berlim ou Oslo. O conceito de colaboração ganha uma outra dimensão prática e operacionalidade. [...] Por outro lado, a informação clínica disponível on-line permite que o cidadão informado possa também ser um ator consciente e mais responsável na gestão da sua saúde individual, mas também na saúde da sua comunidade" (p. 1).

Se a primeira parte do livro aborda conceitos essenciais para a compreensão das tecnologias da informação em saúde, a segunda parte mostra os resultados de um inquérito por questionário efetuado à população residente em Portugal continental, com idade igual ou superior a 15 anos (808 inquéritos). Por fim, o estudo reflete sobre o espaço das tecnologias de informação e os seus recursos no campo da saúde.

Os investigadores delinearam quatro perfis: 1) não relação com a internet (33,7% dos inquiridos), 2) relação habitual com a internet (29,2%), 3) info-exclusão (21,6%), 4) relação diária com a internet (15,5%). Curiosamente, entre os utilizadores habituais de internet o grau de confiança nesse recurso é menor relativamente a outros meios de informação (p. 34), passando pela compra de medicamentos, produtos dietéticos ou de estética e bem estar (p. 35). Sabendo-se que a proporção de indivíduos que consulta internet anda à volta de 45%, a percentagem de pessoas que procura informação sobre saúde, estética e bem estar situou-se nos 25,7%, em que a grande maioria pertence a pessoas que utilizam habitualmente a internet (p. 22). Os indivíduos procuram obter informações especializadas sobre um problema de saúde (86,1%), aumentar o conhecimento geral sobre saúde (82,7%) e partilhar experiências sobre problemas de saúde (41,7%), entre outros objetivos de pesquisa (p. 29). Os assuntos procurados incluem boa forma e exercício físico, nutrição e problemas alimentares, beleza e bem estar, doenças sexualmente transmissíveis, métodos anticoncecionais, fertilidade e gravidez, toxicodependências (p. 26).

Há um elemento do livro que me chamou uma atenção particular: o crescente ceticismo de populações mais escolarizadas face a esferas periciais, o que enquadra a ideia de uma fase de quebra de legitimidade da medicina (p. 63). Eu constatara isso na minha tese de doutoramento, quando estudei o aparecimento e desenvolvimento de uma doença transmissível sexualmente e o seu impacto nos media. Há elementos novos que o estudo acrescenta, caso da redução de despesa pública na saúde acarretar uma quebra de confiança na autoridade médica. Claro que, em caso de uma dúvida, um indivíduo consulta outro médico particular (75%), consulta outro médico do SNS (11%) ou procura informação na internet (3%), em termos de relação diária (p. 65).

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